A Polícia Civil e a Secretaria de Saúde apuram as causas da morte de Michele da Silva Pereira, 18 anos, ocorrida no Hospital Regional de Ceilândia (HRC) na última segunda-feira. O namorado e parentes da moça acusam médicos do Hospital Regional da Asa Norte de ter esquecido duas compressas no abdome da paciente durante uma cesariana realizada em 1; de março. O fato foi confirmado pela direção do HRC aos investigadores da 15; Delegacia de Polícia (Ceilândia). A família acredita que os objetos apodreceram e levaram à morte da jovem. Michele deixou uma filha de apenas 13 dias. Em nota, a Secretaria de Saúde informou que abriu sindicância para apurar os fatos e se constatar inadequações, os responsáveis serão devidamente punidos.
O delegado-plantonista da 15; DP, Henrique Pantuzo, disse ao Correio que encaminhou ofício ao HRC pedindo que a unidade apresente as gazes retiradas da paciente. ;Eles ainda estão procurando as compressas. Não sabem se foram descartadas;, disse. O investigador explicou que uma perícia no material pode ajudar a compreender se a presença do corpo estranho na cavidade abdominal teve relação direta com a morte de Michele.
É possível ainda que a polícia acione o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, já que o hospital se negou a fornecer o prontuário eletrônico da paciente à polícia. A 15; DP vai juntar as provas e encaminhar o caso à 5; DP (Região Central), já que o fato aconteceu no Hran.
A família também acusou as unidades de saúde de sonegarem informações. ;Eles não quiseram a nos dar o resultado dos exames, o prontuário e os nomes dos médicos que atenderam a Michele;, contou Matheus Pereira Araújo, 18 anos, namorado dela e pai de Ana Luíza, a bebê do casal. Em 1; de março, a jovem deu entrada no Hran para uma cesariana por indicação de médicos do posto de saúde onde fez o pré-natal. O parto já estava atrasado, mas a paciente não tinha dilatação suficiente para um parto normal, por isso a necessidade da operação. Ana Luíza nasceu saudável.
No dia 4, a mãe recebeu alta, mas reclamou de fortes dores no abdome. ;Dois dias depois, a levamos ao HRC. O exame de sangue mostrou uma infecção. O médico passou um remédio para a dor e um antibiótico, mas mandou a gente para casa;, conta Matheus. O quadro não melhorou e o casal buscou ajuda no Hospital Regional de Taguatinga, mas a unidade estava sem médicos.
Então, em 7 de março, Michele procurou novamente o HRC. Ela deu entrada já em estado muito grave. A família ficou indignada porque a paciente acabou transferida para a emergência da clínica médica e foi acomodada em uma maca no corredor. ;Ela nem tinha tirado os pontos da cesárea e acabou largada no meio do hospital. A tomografia estava marcada para o dia 20 e só com muito esforço conseguimos adiantar. Mas logo viram que ela precisava de outra cirurgia;, completa Matheus.
Michele não resistiu às complicações. Ela tinha uma veia perfurada no abdome e sofreu uma parada cardiorrespiratória. A médica que operou a moça deu a notícia da morte a Matheus. ;Ela mesma disse que tinham encontrado as duas compressas. Isso é muito descaso. A gente quer justiça;, desabafou. Em nota, a Secretaria de Saúde não fez qualquer menção ao material supostamente esquecido e informou que abriu sindicância para apurar os fatos e punir os responsáveis ;se for constatado algum procedimento inadequado;.
Durante toda a agonia da mãe, a bebê contou com a sorte de poder ser amamentada por uma prima do pai, que teve um filho há cinco meses. Annelice Silva Oliveira, 31 anos, tem cuidado de Ana Luíza desde o nascimento. ;Eu disse ao Matheus que se preocupasse com o caso da mulher dele porque a menina está bem cuidada. É uma situação muito triste;, conta, emocionada. Ontem, o corpo de Michele passou por necropsia no Instituto de Medicina Legal (IML) e deve ser enterrado hoje, em Goiânia, onde mora a família.
Casualidade
Por enquanto, ainda não é possível confirmar a relação de causalidade entre a morte de Michele e a presença das compressas. Mas, caso a investigação conclua que houve erro médico determinante para a morte da jovem, os profissionais responsáveis podem ser indiciados por homicídio culposo, com pena de 1 a 3 anos de detenção, agravado pela inobservância das normas de conduta profissional.
Confira a reportagem da TV Brasília
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