A novela Salve Jorge, da TV Globo, trouxe à sala de estar dos brasileiros o drama de mulheres brasileiras mantidas como escravas sexuais no exterior. Na trama, a personagem principal é levada à Turquia. História baseada no mundo real, em que há inúmeras estrangeiras atraídas à Europa com promessas de trabalho e uma vida melhor, mas que acabam sendo forçadas a se prostituir para saldar dívidas impagáveis. Não raramente, o enredo acaba em tragédia, como o protagonizado pela moradora de Brasília Letícia Peres Mourão.
Após uma temporada na Espanha, ela retornou ao Brasil em 2008. Aos 31 anos, queria retomar o contato com o filho adolescente e ficar longe do país onde sofria ameaças. Em um caso raro, a mulher denunciou o cafetão à polícia. Contou ser obrigada a fazer até 40 programas sexuais por dia, sem poder sair do quarto. Conseguiu fugir, mas acabou executada com um tiro na cabeça.
Agentes brasilienses descobriram o assassino. Em seguida, a polícia espanhola desmontou uma rede de tráfico internacional de mulheres comandada por mafiosos do leste europeu. Investigação iniciada com o testemunho de Letícia. Dela vieram as peças que faltavam para policiais civis de Brasília desvendarem o seu assassinato. No entanto, um dos envolvidos continua livre, impune.
Para reconstituir a história de Letícia e contar os segredos da máfia da prostituição internacional, o Correio foi atrás das provas levantadas pelas polícias do Distrito Federal e da Espanha. Pesquisou as 922 páginas do inquérito e do processo do seu assassinato. Teve acesso a 18 depoimentos da vítima, de investigadores e testemunhas. Entrevistou ainda 12 pessoas, entre policiais, parentes e amigos dela.
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