Flávia Maia, Ana Maria Campos
postado em 24/03/2013 07:35
Na cidade em que o preço do metro quadrado supera o da orla do Rio de Janeiro, a indústria que mais prospera em Brasília é a imobiliária. Nas Áreas de Desenvolvimento Econômico (ADEs), concebidas como células de atração para os investimentos privados, há toda sorte de desvios. O principal deles: no lugar reservado a negócios, multiplicam-se ofertas de moradias. Empresários que ganharam incentivos para gerar emprego e renda modificaram o status de seus empreendimentos. Com pouco ou nenhum tempo do amadurecimento de suas firmas, perceberam que é mais lucrativo fechar as fábricas e montar quitinetes ao arrepio das regras de urbanismo. Não há uma só ADE, entre as 27 criadas na capital federal, que não tenha uma habitação em situação irregular, como comprovou a reportagem do Correio ao percorrer todas essas regiões.
[SAIBAMAIS]Os exemplos estão por toda parte. No Polo de Modas do Guará, que se tornou uma das áreas símbolo do estímulo público para o funcionamento de pequenas indústrias, especialmente no ramo têxtil, o desvirtuamento é espantoso. O setor inserido em bairro de classe média se transformou numa fervilhante área voltada à especulação imobiliária. Em cima de cada loja constituída como sede de uma pequena empresa surgiu um prédio, sem autorização pública, estudo de impacto ambiental, alvará que garanta segurança, ordenamento urbanístico. Não há previsão de estacionamento, calçadas ou espaço de circulação para bombeiros. Alguém de fora que passe no setor vai ter a impressão de que o lugar é um cortiço.
No Polo de Modas, a 8km do Plano Piloto, os prédios chegam a ter cinco andares, muitos em construção. Em 10 anos desde que o lugar foi inaugurado, a população quadruplicou. A previsão inicial era para até 2 mil moradores, entre artesãos, costureiros, designers, estilistas, operários. Mas hoje esses profissionais, os poucos que restaram, estão cercados de construções residenciais precárias, mal-acabadas e improvisadas. O avesso do planejamento. No centro, um outdoor com propaganda de uma corretora sintetiza o cinismo: ;Eu tenho o imóvel que você procura;.