Flávia Maia, Ana Maria Campos
postado em 26/03/2013 06:09
Num dos setores pioneiros de Brasília concebidos como porta de entrada da produção, um muro separa o desenvolvimento do retrocesso; a oportunidade, da falta de perspectivas; a atividade, do desemprego; a ausência de Estado, da presença do poder público. De um lado do paredão, no Setor de Abastecimento e Armazenagem Norte (SAAN), pequenas fábricas de alimentos, empresas de concretagem, confecções, firmas de vigilância privada. Do outro, um grupo de 20 pessoas que vive do lixo, mora em barraco de madeirite, coberto por lona, sem acesso a água ou a esgoto. São os integrantes da família Ferreira. Sobrevivem das sobras. Ocupam terreno vizinho a lotes vazios do Pró-DF, programa de desenvolvimento econômico do governo local. Nunca atravessaram a linha que divide o improviso do progresso.
Esse é um triste retrato da falta de oportunidade, associada, no Distrito Federal, a uma indústria ainda retraída, pouco diversificada e sem competitividade. Setor que, se trabalhado em toda sua potencialidade, poderia absorver boa parte de um exército de desocupados. O DF tem hoje o segundo maior índice de desemprego entre as regiões metropolitanas do país. São 178 mil pessoas. Perde apenas para a capital baiana, Salvador. Os números são cartesianos. Apontam que grandes investidores preferem as unidades da Federação vizinhas, com uma carteira de vantagens mais atrativas do que as oferecidas aqui, onde a terra é cara, o custo operacional é alto, com mão de obra mais dispendiosa e incentivos fiscais menos atraentes.