Eles começaram a chegar há 55 anos, com a missão de fazer a então improdutiva terra do Planalto Central fornecer alimentos para os operários da nova capital do país. Hoje, há em Brasília 2,2 mil famílias de japoneses e descendentes. Apaixonadas por esporte, estão na expectativa pelo duelo entre a seleção oriental e o Brasil, em 15 de junho, no Mané Garrincha, na abertura da Copa das Confederações. O Correio inicia uma série de reportagens sobre esse povo tão importante na história da cidade.
O afilhado de JK
A aventura dos japoneses no Planalto Central começou em 1957, quando cinco famílias de imigrantes ; Kanegae, Hayakawa, Ogawa, Ikeda e Okudi ;, que moravam em Goiânia, se mudaram, a pedido do governo, para propriedades rurais em uma área perto do Plano Piloto. Antes, em maio daquele ano, o presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Israel Pinheiro, embarcou em um voo de reconhecimento com representantes das famílias nipos. Após uma hora, o patriarca dos Kanegaes não se conteve: ;Mas a terra é muito ruim;. Pinheiro rebateu com a mesma franqueza: ;Uai, se fosse boa, não precisava de japoneses;.
A primeira colheita na colônia japonesa no DF, instalada no Riacho Fundo, foi levada ao presidente Juscelino Kubitschek. A retribuição de JK veio no ano seguinte. Ele fez questão de batizar o primeiro descendente de japonês nascido em solo candango. Heitor Kanegae veio ao mundo em 5 de janeiro de 1958. Na cerimônia de batismo, com a simplicidade que lhe era natural, o presidente deu colo ao robusto menino e comeu churrasco e sushi ao lado do príncipe do Japão, Mikasa, sob a sombra de um angico-do-cerrado.
Heitor foi o sétimo e último filho dos japoneses Yasutaro e Fumiko. Ao deixar o Japão para trás, o casal morou em São Paulo e em Goiás, até parar no meio do nada. Eles e os filhos sempre cultivaram a terra doada pelo governo, na hoje Colônia Agrícola Riacho Fundo. Heitor ainda formou-se em educação física pela Universidade de Brasília (UnB), virou professor da rede pública local e participou ativamente da formação do futebol na capital. Jogou como volante nos juniores do Brasília, em 1978, e, depois, foi preparador físico do mesmo time, do extinto Taguatinga, além do Londrina (PR). Tornou-se o primeiro treinador nissei de um time brasileiro profissional. Ganhou o Candangão de 1992, com o Taguatinga.
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