No ano em que o Brasil foi tricampeão do mundo, Gersion de Castro se mudava da Vila do Iapi, onde nasceu, para a Vila Paranoá, onde seria criado. Era um bebê, filho de candangos que participaram da construção de Brasília. Como os outros candanguinhos (e brasileirinhos em geral), Gersion aprendeu a andar e a chutar bolinha ao mesmo tempo. Bola de meia, de saco de leite estufado com papel e amarrado com barbante, furada, de pano, de tudo quanto pudesse rolar na terra vermelha.
Os meninos jogavam de pé no chão, os sem camisa contra os com camisa. Brincavam de golzinho, marcando com pau e pedra as pequenas traves por onde as bolas quase redondas deveriam entrar. No tempo da chuva, driblavam a lama; no tempo da seca, atiçavam a poeira. Antes de dormir, tomavam o banho que a pouca água permitia. Era no Lago Paranoá que as crianças se banhavam de verdade, escovavam as unhas, tiravam a tiririca das pernas, dos braços e do pescoço e brincavam de felicidade.
A vila que nasceu do acampamento dos primeiros trabalhadores da Barragem do Paranoá tinha um campo de futebol de medidas razoáveis. Era o Campão, revestido de uma camada de areia e com trave na altura dos adultos. ;Era uma imensidão. A gente ficava muito cansado de jogar lá, era muito grande e com a areia muito fofa;, lembra Gersion de Castro, o autor das pinturas desta página. Nos fins de semana, o Campão era reservado para os jogos da liga dos times das cidades-satélites.