postado em 06/08/2013 10:23
O julgamento dos suspeitos de matar Ivan Rodrigo da Costa, conhecido como Neneco, na porta de uma boate em Brasília, em agosto de 2006, começou nesta terça-feira (6/8). Por volta das 21h40, a sessão ainda continuava. Até o horário, dez testemunhas, entre acusação e defesa, já tinham sido ouvidas. Outras duas ainda devem prestar depoimento, mas a oitiva dos réus provavelmente vai ficar para amanhã.
Fernando Marques Róbias, vulgo Lacraia, Francisco Edilson Rodrigues de Sousa Júnior, Thiago Martins de Castro, Edson de Almeida Teles Júnior e Alexandre Pedro do Nascimento vão a júri popular.
O julgamento é marcado por depoimentos tensos e contradições. Uma das últimas testemunhas de defesa disse hoje que saiu do carro para apartar a briga, mas a fala foi questionada pelo Ministério Público, uma vez que em seu primeiro depoimento à Justiça ele afirmou que ninguém tentou separar a confusão. No fim da noite, também fou ouvido o delegado do caso, Antonio Coelho, da 2; DP, que apontou dificuldades no inquérito. "Os réus são muito agressivos. Eles encaravam e destratavam, inclusive, os policiais".
Mais cedo, a primeira testemunha ouvida foi o amigo de infância da vítima Luiz Alberto Ferreira Lopes, também agredido no dia do crime. Luiz pediu que os suspeitos e os familiares se retirassem do plenário. Muito emocionado, afirmou que os suspeitos agrediram muito o amigo. "Tinha sangue nas mãos deles", afirma Luiz. Neneco, 22 anos, foi espancado até desmaiar nas proximidades da boate Fashion Clube, próximo ao Liberty Mall, na Asa Norte, há quase sete anos.
"Nenhum deles tentou impedir a agressão. Todos participaram. Eles não deixavam o Neneco cair no chão. Fizeram uma roda em torno dele e iniciaram uma sessão de tortura", afirma Luiz.
O amigo disse também que chegou a se jogar em cima de Neneco para tentar salvá-lo e só assim os agressores decidiram ir embora. "Quando tentei ajudá-lo, tinha certeza que ia morrer", conta. "Quando ele caiu, começaram a pisar nele. Vi a barriga dele afundando."
Mesmo machucado, Luiz foi direto para a delegacia registrar ocorrência. Ele contou que se mudou de Brasília após o crime e não pretende voltar a morar na cidade. "Fiquei traumatizado."
A namorada de Neneco, Paula Carneiro Miranda, também foi ouvida e confirmou o depoimento que deu em 2006. Ela disse que viu dois dos cinco acusados saindo do carro na hora que a briga começou. Paula não deu mais detalhes porque logo em seguida entrou no carro para ligar para a polícia.
A terceira testemunha de acusação, Marco Aurélio Novais, disse que na época do espancamento, quando Neneco ainda estava internado, participou de um protesto em frente à 2; Delegacia de Polícia (Asa Norte) para pedir a prisão dos responsáveis. Ao chegar lá, o grupo manifestante foi informado que os acusados tinham sido presos e entraram para conferir.
Marco contou que um advogado o abordou pensando que ele fosse parente ou amigo de um dos presos. De acordo com Marco, o advogado teria dito para ele não se preocupar, porque colocaria culpa em dois dos acusados para livrar os demais. Marcos disse que tentou gravar a conversa com o celular, mas não conseguiu.
Defesa
O depoimento da primeira testemunha de defesa, Juliana Arantes, durou duas horas e foi marcado por muita tensão. Ela contou que estava comendo cachorro-quente próximo ao local do espancamento e viu quando Neneco caiu no chão durante a agressão de dois dos cinco acusados.
Juliana também disse que viu Luiz correndo em direção ao local onde ela estava e que duas pessoas foram atrás dele. Porém, não soube afirmar se os outros três acusados bateram em Neneco ou só estavam lá para apartar a briga.
O promotor Maurício Miranda perguntou à Juliana se era amiga de algum dos acusados. Ela respondeu "não" e chorou. No entanto, afirmou que conheceu Fernando Lacraia em um churrasco do dia anterior ao espancamento.
Durante todo o depoimento, Juliana olhava para os advogados de defesa. Maurício ironizou, "não precisa olhar para o advogados. Todo mundo aqui é feio".
Entenda o caso
Luiz Alberto teria saído para comemorar o aniversário com o amigo Neneco e a namorada em uma festa na boate. Ao saírem, eles perceberam que o pneu do carro estava vazio. Enquanto Luiz Alberto trocava o pneu, Neneco e a namorada conversavam encostados na traseira do carro.
Segundo testemunhas, o casal foi surpreendido pelo carro de Fernando Lacraia vindo de ré rapidamente em direção a eles. Para alertar o perigo de colisão, Luiz Alberto teria dado um toque no vidro do carro em que se encontravam os suspeitos. Dois deles teriam descido do veículo para tirar satisfação.
Lacraia teria iniciado uma série de golpes nas costas de Luiz Alberto. Quando ele tentou fugir, o suspeito deu vários socos na cabeça, no ouvido e na nuca de Luiz, até derrubá-lo. Enquanto isso, os outros suspeitos saíram do carro e começaram a espancar Neneco, atingindo-o principalmente na cabeça e no peito, de acordo com a denúncia.
A promotoria afirma que os suspeitos continuaram o ataque contra Neneco mesmo caído e desmaiado, sem condições de reagir. Pessoas que passavam pelo local chamaram a polícia e o Corpo de Bombeiros e gritavam para que os suspeitos parassem com o ataque.
Neneco foi hospitalizado, passou por diversas cirurgias e, após nove dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), faleceu. Segundo a denúncia, os suspeitos eram capoeiristas e profissionais de lutas, alguns até professores. "Eles agiram simultaneamente, impossibilitando qualquer gesto defensivo da vítima." Amigos e familiares de Neneco realizaram uma manifestação pela paz no mesmo ano do crime.
Os suspeitos vão responder perante júri popular por homicídio qualificado por motivo fútil, praticado por meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. Fernando Lacraia também responderá por lesão corporal a Luiz Alberto. O suspeito Thiago Martins será julgado separadamente, pois teve o processo desmembrado em virtude de nova condenação penal ocorrida em 2007.
Com informações de Mara Puljiz.
[VIDEO1]