MARA PULJIZ
EDILSON RODRIGUES
Eles moram no bairro mais nobre de Brasília e têm uma vista privilegiada do Lago Paranoá. Uma estrutura metálica e um pedaço de asfalto separam o lugar onde dormem da vida urbana pulsante: por cima de suas cabeças, trafegam cerca de 20 mil carros todos os dias. Mas a casa deles não é nenhuma daquelas espaçosas e bem cuidadas do Lago Sul. Eles vivem em um ambiente escuro e empoeirado dentro da Ponte Costa e Silva. É na estrutura de 400 metros de extensão que Ademilson Tavares Oliveira, 31 anos, e Roberto Rodrigues de Melo, 28, passam as noites. A dupla faz da obra projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, uma moradia. O primeiro diz estar no local há oito meses e o segundo há cinco anos. A realidade contrasta com o cenário do lago, onde moradores e frequentadores de uma das regiões mais ricas da capital federal passeiam de lanchas e jet skis.
Quem olha para a ponte não imagina como uma pessoa poderia entrar nela. Para isso, Ademilson e Roberto se arriscam. Eles pulam a proteção de ferro do monumento e colocam os pés em uma escada de ferro com 10 degraus instalada na lateral para reparos. Apesar do perigo de caírem de uma altura entre 10 e 20 metros, os dois entram e saem do buraco na parede em menos de cinco segundos. Roberto diz estar acostumado com a rotina: tem mais medo da escuridão dentro do local. ;Já andei isso aqui tudo e não existe nada dentro não. A única coisa que eu tenho medo são das aparições;, revela. Roberto deixou a estrutura às 9h40 de ontem de chinelo, boné e uma mochila nas costas. Voltaria para a área só no fim da tarde. Dentro do vão central, ele e o colega ficam em uma área com altura entre 2,5m e 2,8m. O barulho do lado de fora é abafado pelo concreto. Para dormir, Roberto forra o chão com lençol e se livra do frio com um cobertor. Sempre deixa uma vela acesa ao lado. Durante o dia, o morador ganha dinheiro vigiando carros em um mercado próximo. Quando sente fome, prepara o almoço em fogueiras montadas no gramado próximo à Praça dos Orixás, na Prainha. ;Eu cato carne no lixo dos restaurantes e faço o arroz;, conta.
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