Cidades

Operários de Sobradinho são figurantes do filme 'O outro lado do paraíso'

O enredo mostra uma família mineira que chega ao Distrito Federal em 1963

postado em 05/09/2013 07:25
Cerca de 30 homens sujos de terra e com figurinos de época ocuparam a Taguatinga cenográfica: protestos por melhores condições de trabalho
As mãos sujas de barro erguem casas para abrigar histórias, muros para protegê-las e secam o suor misturado à terra no rosto de quem trabalha de sol a sol. Ontem, elas abriram janelas. Seus donos deixaram de edificar prédios, durante apenas um dia, para construir lembranças. No habitual horário de pegar no batente, às 5h, operários brasilienses tomaram o ônibus rumo ao Polo de Cinema de Sobradinho, reinaugurado no mês passado, após 12 anos inativo. Inscreveram-se como figurantes do filme O outro lado do paraíso, com orçamento de R$ 7 milhões, adaptação do livro infantojuvenil homônimo e autobiográfico do escritor Luiz Fernando Emediato, publicado em 1981.

A obra conta a vida de uma família vinda de Minas Gerais para Brasília, em 1963, atraída pelas promessas de prosperidade da nova capital. Os planos são frustrados pelo golpe militar, no ano seguinte. A história se passa em Taguatinga e é narrada sob o olhar de Nando (representado pelo ator Davi Galdeano), um menino de 11 anos, filho de Antônio (Eduardo Moscovis), um homem de 37 anos, sem emprego fixo e que enxerga Brasília como uma espécie de terra prometida.

Quase duas décadas de vida não foram suficientes para levar o cearense Leandro Sousa, 19 anos, morador de Valparaíso, ao cinema. O trabalho pesado como ajudante de pedreiro e o salário apertado não compram esse tipo de diversão. Leandro encontrou o chamado para ser figurante na internet. Curioso, candidatou-se e foi escolhido. Ontem, vestiu o figurino de época, sujou-se de terra e atuou ao lado de 30 homens recrutados para ocupar a cidade cenográfica em Sobradinho, que representa Taguatinga nos anos de 1960. O grupo gravou cenas nas quais protestava por melhores condições trabalhistas, mesmo durante os anos de chumbo, quando manifestações desse tipo eram reprimidas com ainda mais violência que nos dias atuais.

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