postado em 20/09/2013 06:00
Quem vive ou viveu a infância no Plano Piloto desfruta de um privilégio único: as superquadras. Idealizadas por Lucio Costa para proporcionar uma nova maneira de viver, com blocos cercados por muito verde, elas foram concebidas para permitir o livre trânsito de pessoas por meio dos pilotis. Com isso, criaram condições que fizeram das quadras residenciais das asas Sul e Norte espaços especiais para a convivência. Descer para brincar e ficar embaixo do bloco são expressões típicas da meninada das SQNs e SQSs e, nesse contexto, os porteiros são personagens centrais na vida de quem passa mais tempo andando de bicicleta ou de skate, jogando bola, pulando corda, patinando ou brincando de boneca entre as portarias do que enfurnado nos apartamentos.
O fotógrafo e diretor de teatro Diego Bresani, 30 anos, conhece bem esse cenário. Nascido em Brasília, ele passou a infância e parte da adolescência na 309 Norte, para onde a família se mudou em 1989. Raimundo, Marcos, Tião e Manoel eram os donos da portaria. Mas o trabalho deles ia muito além de identificar visitantes e abrir portas. ;A gente os via mais do que aos nossos pais. Muitas vezes, eram eles que faziam os primeiros-socorros quando alguém levava um tombo ou precisava de um copo de água. Para mim, eram como super-heróis ;, compara Bresani. A partir de memórias e da admiração que sempre nutriu por esses homens, surgiu a ideia de homenageá-los com um ensaio fotográfico.
Reencontro
Como os pais de Bresani ainda moram no mesmo apartamento, ele manteve a convivência, ainda que esporádica, com os ídolos e não foi difícil convencê-los a participar da empreitada. O reencontro, no entanto, provocou reflexões profundas em Bresani. ;Logo nos primeiros minutos de conversa, percebi alguma coisa diferente. O Tião estava me tratando da mesma forma que tratava o meu pai. Consegui ver que quem mudou fui eu e não ele. Então os meus super-heróis estavam, na verdade, simplesmente trabalhando?;, pondera. A constatação incomodou o jovem. ;Foi um choque de realidade, os caras são trabalhadores. Mas isso não diminuiu o meu carinho por eles;, pontua o artista, que, há oito anos deixou a casa dos pais.
A partir daí, com essa visão daqueles homens que povoavam lembranças tão idealizadas da infância, ele decidiu retratá-los de uma nova forma, como heróis improvisados. Para tanto, comprou acessórios igualmente improvisados. Tião virou uma espécie de Super-Homem, enquanto Raimundo transformou-se em Capitão América; Manoel, em Darth Vader; e Marcos, em Batman. A brincadeira serviu para devolver leveza à relação construída à base de muita brincadeira e risadas.
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