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Trigo de qualidade faz Brasília ter o pão mais saboroso do Brasil

Mesmo com a menor área de cultivo do trigo entre sete estados produtores, a capital federal fabrica a farinha de melhor qualidade do país. De acordo com pesquisa do governo, isso faz com que o alimento vendido aqui seja mais saboroso

postado em 29/09/2013 20:45 / atualizado em 19/10/2020 17:49

Cláudio Malinski, engenheiro agrônomo de cooperativa do DF:  a semente faz a diferença

O brasiliense consome o melhor pão francês do país, de acordo com levantamento do Ministério da Agricultura. Segundo o estudo, o pãozinho produzido no Distrito Federal tem a massa de melhor qualidade. O que faz a diferença é uma característica técnica chamada peso hectolitro (PH) da farinha. No caso da fabricação do alimento na capital federal, o número é de 85 PH, enquanto a média nacional é de 78 PH. A medida demonstra a superioridade do trigo cultivado no cerrado.

Mesmo com a menor área de cultivo do trigo entre sete estados produtores, a capital federal fabrica a farinha de melhor qualidade do país. De acordo com pesquisa do governo, isso faz com que o alimento vendido aqui seja mais saborosoApesar de ter a menor área de cultivo do trigo — estimada em 1,5 mil hectares —, em comparação a outras sete unidades da Federação (Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), o DF ocupa, este ano, o primeiro lugar no ranking das regiões com a maior produtividade do país, com 7 toneladas de grãos por hectare. A média do Brasil para a safra 2013/2014 é de 2,2 toneladas. O dado faz parte do Acompanhamento da Safra Brasileira de Grãos, divulgado este mês pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Júlio Albrecht explica que a qualidade do pão brasiliense se deve aos estudos realizados, na última década, sobre as variedades de trigo. “Desenvolvemos cultivos de trigo com alta produtividade industrial por meio do melhoramento genético. A farinha oriunda dessa produção local tem características fundamentais para o resultado de um alimento com sabor diferenciado, como a força do glúten e a estabilidade”, afirma.

A semente utilizada no plantio do DF é a BRS 264, lançada em 2006, e desenvolvida a partir da década de 1970 pela Embrapa Cerrados. É considerada uma das melhores do país e foi criada especificamente para o clima seco do DF. “Outro estudo que desenvolvemos ao longo dos anos foi com relação ao solo. Essa combinação culminou na melhor produtividade do trigo por área cultivada”, esclarece Júlio Albrecht.

De acordo com os produtores de trigo do DF, a farinha oriunda da semente BRS 264 é homogênea e não oscila por conta do tempo. “A atividade enzimática do grão não muda com a variação climática, o que não ocorre com outras farinhas de outras regiões e países”, afirma o engenheiro agrônomo da Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF) Cláudio Malinski.

A Coopa-DF reúne 90% dos produtores de trigo do DF, correspondente a 18 fazendeiros. A produção média de sacas chega a 482 mil por ano. A cooperativa incentiva técnicas de sustentabilidade no cultivo do grão, além de apoiar o processo de industrialização e comercialização. “O produtor participa de todas as fases do produto. A Coopa-DF processa o trigo e transforma em farinha de trigo. Ela é armazenada, embalada e comercializada para os clientes do DF e do Entorno”, conta o presidente da Coopa-DF Leomar Cenci.

Esse processo conta com financiamento de recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) e também do Banco de Brasília (BRB), que disponibilizou no ano safra de 2012/2013 mais de R$ 40 milhões como crédito rural. “O BRB investe no plantio e no resultado final do produto. O objetivo é incentivar que mais produtores do DF passem a cultivar o trigo para incentivar a competição da produtividade dessa cultura”, afirma a gerente de Crédito Rural do BRB, Patrícia Alves de Melo. A Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE/DF) também é beneficiada pelo crédito.

Diferenças de medidas


É a medida oficial de áreas rurais utilizada em todo o país. Um hectare corresponde a 10 mil m². É o termo mais utilizado entre os proprietários de terras e corretores, mas em alguns estados, como Goiás e São Paulo, ainda é possível encontrar unidades medidas pelo alqueire. O alqueire paulista é equivalente a 24, 2 mil m² e o goiano corresponde a 48,4 mil m².

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