Cidades

Pais lembram brincadeiras que marcaram a infância de uma geração

Atraída pelo entretenimento proporcionado pelos jogos virtuais, a meninada hoje fica mais isolada, mas não dispensa uma boa partida de futebol

postado em 11/10/2013 10:24
Que a infância é tempo de brincadeira não há quem conteste. Tanto a concepção filosófica quanto a sabedoria popular defendem que, até os 10 anos, no mínimo, a ordem é se divertir e aprender de forma lúdica. Essa fase, porém, pode agregar valores e tarefas conforme o contexto social e histórico em que a criança está inserida.

A dentista Ana Marta Rocha Noronha, 31 anos, com o filho Luiz Eduardo, de 5: ela brincava de amarelinha, o filho curte celular e tablet
Enquanto a garotada de hoje cita os jogos de computador como atividade, pessoas mais velhas lembram-se de um tempo de trabalho e responsabilidade desde a infância. A partir dos relatos de diferentes gerações, pode-se, ainda que de forma nada científica, perceber as mudanças pelas quais a primeira etapa da vida passou ao longo dos anos.

Nascida em Brasília, a cirurgiã-dentista Ana Marta Rocha Noronha, 31 anos, lembra-se de quando as quadras do Plano Piloto eram o universo infantil. ;Eu brincava muito com outras crianças, jogava amarelinha. Hoje, vejo que os meninos ficam mais sozinhos com tablets e celulares;, avalia.

O tempo maior na escola também é destacado pela dentista. ;Eles ficam menos em casa e têm mais atividades, como inglês e esportes;, cita. Os inúmeros recursos do celular não são suficientes para o lazer do filho de Ana Marta, Luiz Eduardo Noronha Caetano, de 5 anos. Ele também valoriza os momentos em que coloca o corpo em movimento. Gosto de jogar futebol com os meus amigos da escola e de pular corda;, afirma o pequeno.

Proteção

A percepção de que a atualidade infantil é mais solitária é confirmada pelo psicólogo e professor do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília (UnB) Áderson Luiz Costa Júnior. ;A falta de segurança faz com que não vejamos mais crianças brincando na rua. É uma pena;, argumenta. Tal situação pode, até mesmo, afetar a capacidade de interação social dos mais novos, segundo o psicólogo. ;Isso pode causar uma perda da habilidade em manejar situações de conflito e de se relacionar com pessoas diferentes;, alerta. ;Como as crianças ficam mais na escola, elas perdem as horas que teriam para brincar e, até mesmo, conviver com os pais;, destaca.



Uma preocupação que se firmou nas últimas duas décadas foi a de proteger as crianças. ;A infância tende a ser mais protegida por causa da falta de competência do mundo. As ameaças trazidas pelo trânsito e pela criminalidade implicam uma tentativa mais evidente de afastar as crianças de tudo isso;, analisa.

Convivência

De falta de convivência familiar Matheus de Souza Fidelis Rodrigues, 10 anos, não pode reclamar. Ele e a mãe, a bancária Rosicler Silveira de Souza, 45 anos, costumam dividir bons momentos juntos. ;Gosto de levá-lo para pegarmos gravetos e construirmos bonecos e também para jogar partidas de tabuleiro;, conta a mãe. O garoto considera ter uma infância satisfatória: ;Eu me sinto feliz. Acho que ser criança é se divertir, não ficar preso a um local só;, imagina. Mas nem só de diversão ela se configura, segundo Matheus. ;É um tempo de aprender e de estudar para ter um futuro melhor;, acrescenta.

Estar atento ao comportamento dos filhos é uma das obrigações primordiais dos pais, defende o psicólogo Costa Júnior. ;Os pais precisam ser companheiros da infância, estarem comprometidos com o desenvolvimento deles;, defende.

Algumas das formas de se fazer, de fato, presente na vida dos pequenos é identificar as preferências dos pequenos, entendendo o que lhes agrada ou não, o que os magoa e os alegra. ;Assim, os pais se tornam capazes de construir um ambiente facilitador ao crescimento saudável e sem traumas;, explica.

Por fim, a escola é também tão importante quanto o contexto familiar. ;A escola deve ser prazerosa, sensitiva às necessidades infantis. Se a instituição não estiver preparada para entender as peculiaridades de cada um, torna-se uma obrigação desagradável;, afirma.

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