Brasília, 1964. Quatro anos depois da fundação, a cidade sofreu o primeiro grande golpe. Os militares assumiram o poder e passaram a intervir em cada esfera da vida na então incipiente capital. Dois anos antes, a Universidade de Brasília (UnB) era inaugurada com a nata da intelectualidade. Nasceu para pensar o país sob uma perspectiva brasileira, e não mais europeia ou norte-americana, como em outras instituições de ensino superior. A mudança de paradigma preocupou os novos chefes de Estado. A desconfiança do que se construía na UnB acompanhou o regime desde os primeiros dias dos militares no poder, como mostra série de reportagens publicadas a partir do último domingo.
Nesse contexto, a universidade se viu em meio a invasões policiais, prisões, demissões e intervenções constantes. Logo, transformou-se também em um centro de resistência na capital federal. Sem sindicatos trabalhistas estruturados e com movimentos sociais embrionários, o movimento estudantil se mostrava como a principal força de mobilização contra a ditadura no DF. Por isso, a política preencheu todos os espaços acadêmicos e de convivência da UnB.
Um dos locais mais emblemáticos da universidade nesse período foi a sede da Federação dos Estudantes da UnB (Feub). O local era um barracão de madeira pintado em um tom de cinza ou verde desbotado, como define a ex-aluna Betty Almeida. Segundo ela, a fachada deveria ter de 10 a 15 metros. Funcionava perto da atual Faculdade de Educação 3, primeiro prédio da reitoria. O local abrigava também a Federação Atlética da UnB, alguns diretórios acadêmicos e a federação dos estudantes secundaristas. “A Feub era muito frequentada pelos estudantes, inclusive por diretores da UNE (União Nacional dos Estudantes). Mesmo depois que fomos colocados na clandestinidade, realizávamos eleições anuais”, lembra Betty.
Honestino Guimarães foi um dos presidentes da Feub, quando já era considerada clandestina, a partir da Lei Suplicy de Lacerda, de 1964 (leia Cronologia). Na época, os reitores faziam vistas grossas para a permanência das instituições. “Tinha participação alta porque os estudantes se identificavam. As assembleias continuaram. Às vezes, eram no (Auditório) Dois Candangos. Sempre cheias”, recorda a ex-estudante da UnB. Na gestão do reitor José Carlos Azevedo, indicado pelos militares, a Feub acabou demolida. Hoje, é um estacionamento.
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