postado em 27/10/2013 18:48
;Já sofri piadas na escola, cansei de ouvir frases de duplo sentido e de ser xingado por pessoas que passavam de carro;, conta o estudante Marcos Silva Guimarães, 19 anos. Após ter sentido na pele o preconceito, o jovem não mede esforços para lutar por direitos igualitários. Esse foi um dos motivos pelo qual estava presente, ontem a tarde, no centro da Ceilândia, palco da 5ta parada do orgulho de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) da região. ;As pessoas não são obrigadas a aceitar, mas a respeitar. Isso é uma luta diária;, completa.
A passeata foi promovida pela organização não governamental (ONG) Elos LGBT-DF e apoiada pela administração da região e teve como tema principal "Estado Laico, Democracia e Direitos Humanos". Também contou com trio elétrico, ao som de Beyoncé, Rihanna e Lady Gaga e com atrações de cantoras como Lorena Simpson.
;O objetivo é dar visibilidade à população LGBT na Ceilândia. Sem incluir o direito LGBT não há cidadania, nem direitos;, explica o presidente da ONG Elos e organizador da parada, Evaldo Amorim. ;Também queremos chamar a atenção para a regulamentação da Lei 2615, que pune ato discriminatório em razão de orientação sexual. Este ano, foi regulamentada e, no mesmo dia, foi revogada;, completa
Além da passeata, houve, desde quinta-feira, eventos na região sobre essa temática, com palestras, mesas de debates, com autoridades e entidades do setor e jogos para jovens. ;Queremos criar espaços de debates e também levar a demanda para judiciário e legislativo;, comenta. ;O presidente conta ainda que pretende chamar a população, com a parada, para dizer ;não à homofobia; e a crimes cometidos por questões discriminatórias. ;Não tenho aqui os números exatos, mas são dois LGBTs mortos por semana no DF e com crueldade;, lamenta.
O coordenador de diversidade sexual no Governo do Distrito Federal (GDF), Sérgio Nascimento, 29, fez parte e ajudou a organizar a primeira parada gay da Ceilândia, há cinco anos. ;A Ceilândia é uma região importante pro ser grande e ter uma população grande. Tínhamos muitos conhecidos LGTBs que moravam aqui e nos cobravam isso;, conta. ;O benefício maior é a visibilidade e o fato de poder, pelo menos uma vez por ano, andar de mãos dadas e dar beijo na boca em público. Mostramos para a sociedade que existimos;, afirma.
Para Nascimento, o preconceito e a discriminação afetam o psicológico dos envolvidos. ;Percebemos que muitos casos de suicídio têm viés homofóbico. Os LGBTs sofrem preconceito na escola e até dentro de casa;, conta o coordenador, que milita há cerca de 7 anos. ;As pessoas estão mais abertas, a mídia ajuda, mas não chegamos ao patamar socialmente aceitos;, avalia. O jovem ressaltou ainda a importância do ;Disque 100; que conta com opção para atender vítimas de homofobia.
Luta e diversão
Alef Barbosa, 18, veio de Planaltina, pela terceira vez, para conferir o evento. ;Acho divertido, é a oportunidade de estar com meus amigos;, diz. Já a artesã Edineide Carneiro de Albuquerque, 38, veio pela segunda vez. E estava ansiosa pelo show da Lorena. ;É uma forma de chamar a atenção para o assunto e de vencer o preconceito. Eu passo por muitas situações constrangedoras tenho amigos que não aceitam, vejo diferença no tratamento;, conta. A dona de casa Claudilene Amaro, 35, espera que os organizadores consigam alcançar os objetivos e ser aceita na população. ;É um meio de as pessoas lutarem pelos direitos. Todos têm direito de fazer o que quiserem da vida;, comenta.
O servidor público Marcelo Eduardo Prochazka, 43, vai organizar a primeira parada gay em Águas Claras, em 10 de novembro. ;Queremos quebrar o tabu de que as paradas são apenas festas ou lugar de encontro. O objetivo é reivindicar nossos direitos e resgatar o valor do ser humano. Ser homossexual não é uma aberração, somos seres humanos;, diz.
Em setembro deste ano, também houve a primeira parada gay de Santa Maria. Elker Barros, 32, foi um dos organizadores. ;A partir do momento que os LGBTs saem nas ruas, mostram que são cidadãos. Nossa maior reivindicação é que o governo regulamente a Lei 2615. Queremos respeito e dignidade humana;, conclui.
Evolução das denúncias de violações dos direitos humanos em caráter homofóbico feitas ao poder público
;Mato Grosso foi o estado que mais teve aumento ; de 1657%- de denúncias em relação a 2011
;Rondônia ocupa segundo lugar na lista, com aumento de 550%
;DF é o terceiro, com acréscimo de 431,11%
;Piauí foi o único estado que diminui o número em 36,45%
(fonte: relatório sobre violência homofóbica no Brasil, 2012)