postado em 28/10/2013 06:07
Sala. Três quartos. Cozinha. Dois banheiros. Ótima localização. Quem vê a fachada da casa na 706 Sul nem imagina que, lá dentro, uma montanha de jornais velhos, vidros de maionese, caixas de leite, papéis, imagens de Nossa Senhora de Fátima, roupas e carrinhos de bebê dificultam o deslocamento pelos cômodos. Há sete anos, dona Isaura*, 65 anos, única moradora do imóvel, começou a guardar as suas ;coisinhas;. ;Não consigo jogar nada fora, peguei amor em tudo;, conta a aposentada. Mais do que dificuldade de se desfazer de objetos, muitas pessoas adquirem o incontrolável hábito de acumulá-los.
Isaura nunca se casou. Sem filhos, preenche os dias com atividades na igreja, aulas de hidroginástica e passeios com a cachorrinha da raça poodle. Desconfiada, não costuma convidar ninguém para visitá-la. Na tarde em que recebeu o Correio, conversou por quase uma hora na porta de casa até se sentir segura para convidar a reportagem a entrar. ;Sou um pouco envergonhada, não gosto de gente palpitando na minha vida.; Na cozinha, era difícil saber onde ficava o fogão, a geladeira e a mesa. Com um pouco de dificuldade, ela encontrou duas cadeiras. Ofereceu um copo de água e falou sobre a solidão que sente desde que perdeu a mãe, há pouco mais de quatro anos. ;Ela me fazia companhia, eu a levava ao médico, viajávamos para Goiânia. Depois que ela morreu, passei a ficar mais em casa;, diz.
Mesmo não relacionando a ausência da mãe ao hábito de acumular, Isaura é vítima de uma patologia, a síndrome de Diógenes. ;Apesar de não sabermos a causa, ela pode começar depois de um episódio estressante, como a perda de um ente querido, por exemplo;, revela a psiquiatra Bárbara Perdigão Stumpf. De acordo com a especialista, o descuido com a casa é, na verdade, um desdobramento da negligência da pessoa consigo mesma. Diante da gravidade que o quadro pode alcançar, os sintomas apresentados pela moradora da Asa Sul visitada pelo Correio são considerados leves.
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