Cidades

Opinião: O amor e o desamor por Brasília

Ana Dubeux
postado em 10/11/2013 20:25
Já ouvi dizer que a terra de Brasília é ouro de tolo. Fala-se até em certa maldição, que atinge a quem se atreveu a desbravar o cerrado sem o devido cuidado, atenção e generosidade. Bobagem crer em superstições. Afinal, há algo bem mais palpável nessa história: a terra pública de Brasília sempre foi objeto de ganância. Cada pedacinho desse quadrado, seja em área rural, seja em área urbana, é disputado. Não sem razão, pois muitos enriqueceram plantando prédios, abrindo estradas, fincando cercas onde não deviam, demarcando terrenos que não lhes pertenciam. Tantos ganharam dinheiro, respeitando as leis; muitos outros ganharam ainda mais, passando por cima delas.

Os lobbies por mudanças de destinação de área, os planos urbanísticos que tentam destruir o planejamento da capital tombada, a grilagem e, agora, o pagamento de propinas para a concessão de alvarás em tempo recorde são provas do desamor por Brasília. A pretexto de desenvolvê-la, ocupam seus generosos espaços livres para colher benefícios particulares. A Operação Átrio, que começou a tornar público um esquema fraudulento para liberar licenças de empreendimentos comerciais e residenciais em Águas Claras e Taguatinga, é mais um capítulo degradante dessa história.

Colocar um ponto final nessa longa trajetória de desmandos no uso e ocupação do solo em Brasília seria um belo recomeço. Respeitar as leis e ocupar de forma lícita e racional as áreas da capital e suas adjacências seria um motivo a mais para nos orgulharmos de viver aqui. Os moradores esperam ter razões para amar profundamente a sua cidade. Querem a capital das faixas de pedestres, do cinto de segurança, da qualidade de vida. Querem a cidade que vai terminar 2013 com recordes no setor de transplantes, no qual houve inegáveis avanços e reduções nas filas de espera. Querem a Brasília dos ciclistas; do lago despoluído e livre de ameaças; da Esplanada sem a parafernália das propagandas e barracas de lona; do Museu da República com um acervo rico e digno de se visitar.

Todos os dias, nos surpreendemos com um céu esplendoroso, uma vegetação linda, uma gente criativa e uma notícia que nos faz cair o queixo. Não raro, essa notícia é uma paulada na autoestima da capital, que nasceu para ser grande e próspera, mas vive encolhida de vergonha. Não há limite para a ambição de ganhar dinheiro à custa de corrupção. Também não há limite na busca por razões para renovar o amor por Brasília. Tem uma eleição aí na frente. Devemos pensar nisso.

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