postado em 27/01/2014 06:14
Entre médicos e enfermeiros, o serralheiro de um hospital público pode ter, muitas vezes, um trabalho secundário. Rivaldo Sales de Andrade, 60 anos, conseguiu reverter essa ordem em 20 anos na serralheria do Hospital Regional do Gama (HRG). No local de trabalho, um corredor afastado do pronto-socorro e ao lado da lavanderia, há ferros espalhados, pedaços de cadeira e outros equipamentos hospitalares à espera de conserto. O jaleco é azul, não branco, e as mãos não vestem luvas, mas um preto viscoso de graxa.
Com um sorriso estampado no rosto, Rivaldo fala orgulhoso do aprendizado e das conquistas na serralheria. Entre as invenções, fabricadas artesanalmente para os pacientes, estão as cadeiras de rodas e a férula de Braun, produzida neste mês para o pequeno João Gabriel Gomes de Andrade, 5 anos. O menino quebrou o fêmur e não tinha o equipamento imobilizador no seu tamanho. A pedido dos ortopedistas, o serralheiro adaptou o modelo e reduziu as dimensões. De 95cm, a estrutura diminuiu para 66cm. Como não havia roldana de plástico, utilizada no original, ele apelou para a de ferro, usada em portões.
Segundo Guilherme Haubert, chefe da ortopedia da unidade, a equipe médica não encontrou no mercado férulas de Braun para uso infantil. ;Procuramos para pedir na lista de materiais da Secretaria de Saúde, mas não encontramos. Olhei com o diretor e decidimos chamar o serralheiro para fazer;, lembra o médico. Haubert explica que, quando um paciente sofre fratura no fêmur, ele fica cerca de três semanas internado para depois colocar o gesso.
Experimento de sucesso
No período de internação, o uso da férula é indispensável para alinhar e imobilizar o osso quebrado. Com o início da calcificação, é possível engessar a perna. Mesmo distante dos consultórios, Rivaldo sabe da importância do seu trabalho para a recuperação de crianças, adolescentes e adultos. ;Para mim, é muito satisfatório, tudo que a gente faz aqui é para os pacientes. A gente, quando trabalha com amor, é bom. Tive um dia para fazer a estrutura. Eles gostaram e agora tenho mais 10 para fazer: cinco médias e cinco pequenas;, revela.
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