Luiz Calcagno
postado em 02/04/2014 06:03
Duas pessoas por dia sofreram estupros entre janeiro e fevereiro deste ano no Distrito Federal. Foram 120 entre o 1; o 59; dia de 2014, sendo que pouco mais da metade dessas vítimas é de crianças e adolescentes. Ainda segundo as estatísticas, mulheres são a grande maioria dos alvos, e Ceilândia é a região administrativa campeã em ocorrências. Os números são da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) e refletem, segundo especialistas, apenas parte da realidade desse tipo de violência (veja arte). O medo de represálias, a vergonha ou a conivência com a barbárie mantêm no anonimato um número muito maior de casos. De acordo com a socióloga do colegiado de gestão do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFemea) de Brasília, Nina Madsen, a quantidade poderia ser multiplicada por 10, para se aproximar de um medidor mais fiel.
[SAIBAMAIS] A especialista explica que apenas 10% dos crimes chegam ao conhecimento da polícia. Outro dado da pesquisa é que a maioria dos algozes são pessoas que mantêm vínculos com as vítimas. Na visão de Nina, o levantamento estatístico da segurança pública está coerente com o estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 27 de março, em que mais da metade dos 3.810 entrevistados culpabilizam mulheres por casos de estupro, em razão da vestimenta e da forma de se comportar. ;As mulheres têm conquistado espaço, mas ainda vivem em uma sociedade profundamente machista e violenta, onde faltam dados oficiais de agressões e políticas de enfrentamento e prevenção. Falta vontade política para mudar essa mentalidade;, explica.
De acordo com o titular da Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), Thiago Perobom, o estupro de crianças e adolescentes, ou de vulnerável ; como é conhecido judicialmente ; é um crime diferente da violência contra uma vítima com mais de 14 anos. No entanto, ele explica, ambas estão diretamente ligadas à cultura do machismo. ;A maioria das vítimas são do sexo feminino e dos agressores, do sexo masculino. Essa é apenas uma forma de violência contra a mulher, entre várias. Por exemplo, mais de 80% dos homicídios contra mulheres acontecem pelo companheiro ou pelo ex. Elas também têm maior propensão a sofrerem roubo e estupro no espaço público. Tornam-se culpadas por afrontar os estereótipos machistas;, afirma.
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