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Cidades

Profissionais negros são minoria no primeiro escalão do Executivo

Apenas três dos 37 secretários do GDF são negros. No governo federal, dos 225 cargos de chefia, somente 10 são ocupados por afrodescendentes. Para o professor da UnB Nelson Inocêncio, os dados são um reflexo da sociedade brasileira


“A política brasileira é, ainda hoje, dominada pela mesma elite branca da época da escravidão.” A frase, do professor Nelson Inocêncio, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília (UnB), pode ser traduzida em números. No Distrito Federal, dos 33 secretários, apenas três são negros. Na área federal, a situação não é muito diferente. Segundo levantamento feito por meio dos sites dos ministérios, enquanto mais da metade da população brasileira é negra, apenas 10 dos 225 cargos de chefia, entre ministros e secretários, são ocupados por afrodescendentes.

Como a presença deles no poder é rara, há relatos de que, quando vão a alguma reunião, são confundidos com assessores ou com um representante da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial. O secretário do Idoso, Ricardo Quirino, cansou de ser barrado na porta de reunião. “Como geralmente sou o único de pele preta, olham diferente na mesa de negociação. Associam a figura do negro à falta de capacidade”, acredita.

Quando está nesses encontros, a felicidade por perceber que obteve sucesso na vida vem junto com a tristeza de saber que aquela cena é o reflexo da sociedade. “Olhando socialmente para aquela mesa, vejo a raiz da exclusão, da falta de oportunidade para todos”, lamenta.

Quem conquistou seu espaço, como Quirino, garante que precisa provar diariamente que é capaz. Para um militante partidário, porém, a dificuldade de conquistar a confiança dos companheiros é ainda maior. Rui Gomes, presidente do Movimento Afrodescendente de Brasília, é filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e conta histórias de discriminação até dentro da própria legenda. “Algumas pessoas acham que o negro não dá conta de concorrer a algum cargo”, diz.

Frei Rubens, irmão de Rui, não tem partido, mas também é defensor da causa negra. Ele critica a ausência de representantes afrodescendentes e cita os políticos que não fazem nada para encontrar lideranças que não sejam brancas. “Em tempo de campanha, fazem de tudo. Dão lanche, mandam ônibus para irmos a comícios. Em anos normais, contudo, esquecem da gente”, relata.

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