Adriana Bernardes
postado em 20/04/2014 07:20
Cicatrizes sobrepostas. Feridas totalmente fechadas e outras em carne viva. Abertas, dia após dia, com qualquer objeto capaz de rasgar a pele. Quem se corta tem dificuldade em explicar as razões e, ainda mais, para abandonar o hábito que, segundo os relatos nas redes sociais, se torna um vício. Isso é o cutting, um termo em inglês que significa ;corte; ou, em tradução livre, automutilação. No Brasil, ainda não há estudos sobre o tema, mas o distúrbio atinge um em cada cinco jovens, segundo pesquisas divulgadas nos Estados Unidos, no Japão e na Europa.
Em apenas dois meses de aula, professores de escolas públicas da região Norte do Distrito Federal detectaram, entre os alunos, grupos que fazem a automutilação. A descoberta deixou os profissionais da educação e os pais aterrorizados. Ao perceber os cortes nos braços da filha Ema*, de apenas 13 anos, Gabriela*, 33, chegou a pensar que a primogênita era vítima de violência. ;Perguntei quem tinha feito aquilo com ela, se alguém a estava ameaçando, chantageando, se algum colega ou adulto a estava perseguindo. Quando ela disse que ela mesmo tinha feito aquilo por raiva sem dizer de quem ou do que, fiquei em pânico;, relata (veja Depoimento).
Diante das respostas evasivas da filha, Gabriela diz ter sido invadida por um sentimento de decepção, revolta e tristeza. Imediatamente, procurou a escola em que a menina estuda para tentar entender o que estava acontecendo. Lá, descobriu que pelo mais 10 adolescentes tinham o mesmo comportamento. A direção acionou o Conselho Tutelar, a Subsecretaria de Proteção às Vítimas de Violência (Pró-Vítima), o Ministério Público e a Polícia Militar. Convocou os pais de todos os estudantes envolvidos e percebeu, espantada, que alguns familiares reagiram como se isso fosse algo natural. ;Da mesma forma que não podemos supervalorizar, não podemos achar que isso é uma coisa normal;, defende o diretor do colégio, Fábio*.
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