“Por que você não larga este marido?”. Essa é a frase que Polyanna P. (pseudônimo da autora), 36 anos, costuma ouvir quando conta a alguém que é casada há sete anos com um dependente químico. Apesar de não esconder de ninguém os altos e baixos que passa ao lado dele, a servidora pública é enfática ao explicar o motivo que a faz permanecer com Rafael*. “O meu marido tem uma doença. Alguém abandona um parente ao descobrir que ele sofre de câncer, por exemplo?”, questiona.
Há três anos, Polyanna decidiu desabafar na internet sobre os desafios diários de quem convive com alguém viciado. Assim, em maio de 2011, nasceu o blog “Amando um dependente químico”. O primeiro post foi escrito às 6h e relatava mais uma recaída de Rafael: “Ele chegou em casa por volta das 20h. Sujo. Alienado. O nosso bebê insistia em segui-lo: ‘Papai, papai!’. Mas ele parecia nem ouvi-lo...”. A internet, aos poucos, virou uma espécie de terapia. Cada dia em que o companheiro permanecia limpo, era comemorado, e as recaídas também ganhavam espaço na página.
Os textos começaram a aliviar o dia a dia complicado, assim como as mensagens de apoio que passou a receber. No primeiro ano do blog, Polyanna escreveu 83 postagens. Em quase todas, tentava transmitir mensagens positivas e alertar sobre um problema que passa despercebido para muita gente: a codependência. A condição costuma afetar a maioria dos parentes de quem entrega a vida às drogas e que, completamente envolvidos na dor do outro, acreditam ser capazes de salvar e de controlar os passos do dependente.
A sinceridade dos textos fez o diário on-line ganhar leitores cativos em pouco tempo. “Naquela época, procurei páginas escritas por pessoas que passavam pelo mesmo problema, mas não encontrei. Havia blogs de ex-mulheres e de ex-namoradas de dependentes, mas não de alguém que ainda convivia com um”, conta. Os comentários e as mensagens de apoio, no entanto, mostraram que ela não era a única. Logo, passou também a dar conselhos e a ouvir histórias tão ou mais angustiantes que as dela.
Em um post, Polyanna enumerou as loucuras que fez na tentativa de controlar o vício de Rafael. “Eu já fui até a boca (de fumo) com ele para evitar que usasse muita droga. Fiquei sem comer. Rodei a cidade de madrugada, com meu bebê ainda pequeno, procurando por ele. Fiz busca em hospitais e IML, quando ele sumiu. Menti para os outros. Cobri dívidas sem poder e acabei me endividando. Adoeci.”
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