Cidades

Pais de crianças assassinadas recorrem a familiares para suportar a perda

A mãe busca conforto na Bíblia. Eles lembram o talento musical de João e de Drielly e pretendem consolar amigos do caçula

Ailim Cabral
postado em 16/05/2014 06:03

Drielly e João Guilherme: sonhos interrompidos

Sentados lado a lado, Márcia Machado da Silva, 43 anos, e Valdir Santos, 45, pareciam constantemente trocar forças para suportar a dor da perda dos dois filhos mais novos, João Guilherme da Silva, 9 anos, e Drielly da Silva, 13 anos, mortos após um incêndio criminoso, na última segunda-feira, em Ceilândia. O casal, junto há 25 anos e casado há 18, passou o tempo todo da conversa com o Correio de mãos dadas e trocando olhares carinhosos, falando inúmeras vezes de como contam com o apoio da família para se recuperar.



Assim estão, ao lado de familiares e dividindo as dificuldades com os amigos. Unidos ao filho Marcos Paulo da Silva Santos, 20 anos, eles se mudaram temporariamente para a casa da avó materna do jovem, onde ainda estão a filha mais velha do casal, o genro, a irmã de Márcia, o cunhado e os sobrinhos. ;Minha outra filha não está aqui porque ficou muito abalada. Nós preferimos que ela fique na casa dela para se acalmar;, conta Márcia.

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[SAIBAMAIS]Os pais de Dri e João não falam em perdão para o assassino confesso dos filhos, Rômulo Sebastião Nascimento de Souza, 21. Eles querem justiça. Dizem que vão acompanhar cada passo do processo para que o artesão fique o tempo máximo dentro da cadeia. ;Por mim, se existisse, eu queria a pena de morte para ele;, desabafa Márcia. A frase expressa sentimentos contraditórios dentro dela, mulher religiosa e de fé inabalável. A diarista afirma que, em momento algum, teve a confiança em Deus abalada, principalmente por basear a vida no livro de Jó ; o personagem bíblico perdeu familiares e posses materiais, mas nunca deixou de crer. ;Meu grande temor era perder meus filhos, mas eu encontro conforto em Jó, que perdeu tudo e, mesmo assim, não se revoltou. A Dri e o João eram pessoas divinas, por isso, Ele os chamou.;

Música
Ao falar sobre os filhos, os dois mencionam a música, muito presente na vida da família. Valdir lembra da promessa que fez à filha, fã de guitarra. ;Eu tinha um violão há uns 30 anos, que já estava meio ;machucado;. A Dri queria tocar guitarra e eu prometi que, se ela tocasse o violão, eu não ia medir esforços para comprar a guitarra. Quando cheguei em casa, ela estava praticando. Passou o dia todo tocando para me mostrar;, lembra.

João, mais novo, gostava de cantar e fazia parte de um grupo na igreja, assim como a irmã. ;Eu sei que o Senhor chamou meus filhos porque deve estar precisando de músicos lá em cima. Buscou os dois para tocarem e cantarem para os anjos;, conta Márcia, com os olhos cheios de lágrimas.

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