Cidades

Obra de Lelé, mansão de arcos no Park Way está a venda por R$ 18 milhões

Interesse da família é que o local seja transformado em um centro cultural

Isa Stacciarini
postado em 23/05/2014 06:03
Nelson Fonseca define a casa dos arcos como uma obra de arte e quer transformar o local em uma espécie de fundação para preservar o nome de Lelé
As ideias do arquiteto João da Gama Filgueiras Lima, o Lelé, também apontaram para o individual. Os projetos de residências feitos por ele não são tão conhecidos, mas estão presentes na capital federal. No Park Way, Lelé projetou uma mansão de arcos em um terreno de 30 mil metros quadrados. O presente foi dado, em 1983, para o amigo Nivaldo Borges, falecido em 2010. O alicerce da casa, que conta com 10 quartos, começou a ser levantada em 1972.

A concepção era que a residência fosse semelhante às mansões de Beverly Hills ; bairro das estrelas de Hollywood, nos EUA ;, sem grades ou muros. Hoje, dos nove filhos de Nivaldo, o único que ainda mora na residência é Nelson Fonseca, 50. ;Isso aqui é uma obra de arte. Eu me orgulho de residir em uma obra-prima de um artista. Lelé era como um tio para nós;, relembra. Hoje, a casa dos arcos está a venda por R$ 18 milhões. Mas o interesse da família é que o local tenha um fim específico para aquele que adquiri-la. ;Não queremos que alguém compre apenas pelo valor imobiliário. Nosso sonho é que o local seja transformado em um centro cultural.;

Antropólogo e amigo do arquiteto, Roberto Pinho pode se gabar de morar em um lar erguido por Filgueiras. Construída a 20km do Plano Piloto, no Altiplano Leste, a casa tem 420m;. Foi o último traço do arquiteto para construções residenciais. ;Eu comprei o terreno e ele, generosamente, desenvolveu o projeto. A casa é um exemplo concreto de que a tecnologia não é a cara de Lelé. A obra foi feita por quatro serralheiros, um mestre de obras e dois pedreiros;, explica Pinho. Lelé só foi ao endereço por três vezes. Segundo Pinho, o arquiteto não tinha tempo para desfrutar suas obras, pois estava sempre mergulhado no trabalho.

Nascido em 1932, no Rio de Janeiro, o mestre foi batizado com um nome aristocrático. Mas Lelé preferiu a simplicidade e a humildade da alcunha Lelé. Com essas características, ele viveu por 82 anos com o desejo que a profissão pudesse transformar a vida dos mais necessitados. Tanto que, para especialistas, o projeto de hospitais da Rede Sarah Kubitscheck é o principal legado de Lelé. A rede conta, hoje, com nove hospitais pelo Brasil, todos desenhados pelo arquiteto. As unidades estão espalhadas por Belém, Belo Horizonte, Fortaleza, Macapá, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e duas em Brasília ; na Asa Sul e no Lago Norte.

O presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil do Distrito Federal (IAB-DF), Thiago Teixeira de Andrade, destaca que a maior marca do especialista era a industrialização. ;Ele trabalhava com os sistemas pré-fabricados, mas nunca foi uma arquitetura insípida e massificada. Lelé dava forma particular e bela à industrialização;, ressalta. Andrade também lembra da sensibilidade social do mestre. ;O objetivo dele era sempre a construção de uma arquitetura maior, de projetos voltados a equipamentos públicos e sociais.;

A ligação de Lelé com Oscar Niemeyer foi lembrada por outro especialista. Claudio Queiroz, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UnB, diz que Niemeyer poderia ser definido como criador, enquanto Lelé seria o ;construtor;. Só lamenta que o nome do mestre não seja tão citado. ;No mundo, Lelé talvez não fosse suficientemente conhecido porque ele era um brasileiro dedicado a questões mais engajadas. A arquitetura era a forma que encontrava para resolver questões sociais no Brasil;, aponta.

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