postado em 22/06/2014 19:15
Mais de um mês após sofrer um sequestro relâmpago e viver horas de terror nas mãos de um homem armado com uma faca, Francisco Tavares, 46 anos, teve um domingo (22/06) de glória. "Estou indo tomar um banho, jantar e ir para a igreja agradecer a Deus", contou ele ao Correio, momentos depois de deixar a delegacia.
Essa história começou em 13 de maio, quando Francisco buscava uma amiga em uma parada de ônibus na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, na área central de Brasília. Os dois já estavam no carro e se preparavam para seguir viagem, no instante em que um assaltante entrou no veículo e, os ameaçando, obrigou Francisco a seguir em direção ao Paranoá, a 20 minutos dali.
Em uma área escura, próximo a um matagal, o bandido mandou que Francisco e a amiga descessem e, em seguida, se mandou com o Renault Logan 2010/2011, financiado e sem seguro. Faltavam 18 prestações para o veículo ser quitado, algo em torno de R$ 11 mil. "Foi uma sensação esquisita demais. Você fica se achando impotente diante da situação, sabe?", lembrou o dono do carro e desta história.Na mesma noite, Francisco foi a delegacia contar o sufoco que passara e dizer aos policiais o quanto que gostaria de ter o veículo de volta na garagem de casa. O que ouviu, à época, não foi nada animador. "Disseram que meu carro poderia ser desmontado, queimado, usado para outros assaltos ou vendido para outros bandidos", recordou Francisco. "Desse jeito, a esperança ficou pouca, né?", completou.
Pouca, mas ainda existia. Religoso dos mais ferrenhos, o motorista morador de Sobradinho pediu aos céus todos os dias uma inspiração para encontrar o carro. Um belo dia, viu o carro, mas na foto de uma multa que chegou pelos Correios. A infração não foi cometida por ele. O veículo transitava em alta velocidade na região de Formosa (GO), por onde nunca havia andado.
Ontem (21/6), o telefone de Francisco tocou. Era um cunhado, eufórico, dizendo que avistou o tal Logan contornando um balão no Paranoá, a cidade mais perto do local onde a vítima fora abandonada em maio. O cunhado não conseguiu seguir o carro, mas não tinha dúvidas de que era o próprio.
Neste domingo, Francisco e o cunhado-informante decidiram armar uma "tocaia". Chegaram cedo ao mesmo balão e ficaram à espera do carro roubado. Foram pelo menos três horas de expectativa. E o que parecia ser improvável... "Na hora em que eu vi meu carro passando, me arrepiei todo. Subi na moto do meu cunhado sem capacete mesmo e a gente foi atrás", contou.
Como se não bastasse a sorte ou a providência, como Francisco chama, um viatura da Polícia Militar passava na hora pelo local. "Aquele carro é meu, sargento, aquele carro é meu", disparou o dono do Logan.
Abordado pela polícia, o homem que dirigia o veículo disse que o havia comprado de outra pessoa. Francisco não soube precisar se ele era o mesmo da noite do sequestro. "Naquele dia, o homem sentou no banco de trás, estava escuro. Não consigo mesmo lembrar da fisionomia dele", disse. "Mas se for o mesmo, será preso e sairá dessa vida, se Deus quiser. Não tenho raiva", acrescentou.
Em até três dias, prometeu a polícia, a perícia será concluída e Francisco, enfim, terá o carro de volta. "Agora, quero quitar esse e comprar um novo", adiantou, emendando uma gargalhada na outra.