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Torcida de Camarões faz a festa em Brasília, mesmo com o time eliminado

Com música e dança, cerca de 100 torcedores recepcionaram a seleção africana e ovacionaram Samuel Eto'o, que começará no banco contra o Brasil

Rodolfo Costa
postado em 22/06/2014 19:31
Nem todas as atenções se voltaram neste domingo (22/6) para a Seleção Brasileira. Enquanto muitos torcedores se espremiam por um lugar em frente à grade do Brasília Palace Hotel, cerca de 100 pessoas ficaram na entrada do Hotel Royal Tulip, esperando a chegada do ônibus da delegação de Camarões. Mesmo a eliminação antecipada do país na Copa do Mundo não acabou com a contagiante alegria africana, responsável por reunir até brasileiros na "festa" dos Leões Indomáveis.

Se a expectativa para a maioria dos torcedores brasileiros era conseguir ver de perto Neymar, Hulk e companhia, o objetivo de outros era estar próximo do astro camaronês Samuel Eto;o. ;Está entre os 30 melhores jogadores que vi jogar;, disse o coordenador de merchandising Jocemar Barbosa, 47 anos, acompanhado do filho Pedro Lucas Barbosa, 2.

Jocemar Barbosa levou o filho flamenguista para tentar ver o craque Eto'o
A idolatria veio desde quando o atacante começou a atuar pelo Barcelona, em 2004. ;Hoje, ele não passa por uma fase tão boa, mas é um atleta muito completo. Tem força, joga com garra e ainda marca muitos gols;, avaliou Jocemar, torcedor do Flamengo. Apesar dos cânticos rubro-negros de que Obina, ex-jogador do time carioca, é melhor que Eto;o, ele garante que tudo não passa de uma brincadeira. ;Não tem nem como comparar;, afirmou.

Apesar de Jocemar não ter conseguido ver o ídolo de perto, uma vez que o ônibus da seleção chegou às 13h42 com forte presença de seguranças, a festa da torcida camaronesa fez valer a pena o momento único. ;É muito bom ver que, assim como eu tenho amor pelo meu país, eles têm pelo deles. Mesmo eliminados, vieram em peso para prestigiar a delegação. Não acredito que aconteceria o mesmo se o Brasil estivesse na situação de Camarões. A torcida brasileira é muito impaciente;, ponderou.

Música e dança

Não faltou energia para os mais de 60 camaroneses que foram para a frente do Royal Tulip. Com música e dança, os torcedores fizeram uma verdadeira festa para a recepção dos jogadores. A assistente geral do Porto de Duala, Kie Belinga, 57 anos, e o marido, o agente de fiscalização de trânsito do porto, Kie Belinga Emanuel, 59, enalteceram a beleza da capital do país. ;Apesar da eliminação de Camarões, me contentei muito em conhecer Brasília. A cidade é muito fantástica e bem organizada;, afirmou.

O casal desembarcou em Natal no último dia 12, onde assistiu a partida entre México e Camarões, na Arena das Dunas. Mesmo tendo se encantado com o país, foi a hospitalidade do povo brasileiro que mais chamou a atenção de Belinga Emanuel. ;Os brasileiros são muito receptivos e calorosos. Senti que o povo daqui tem um pouco da África dentro de si;, disse.

O casal Belinga se encantou com o Brasil e os brasileiros
O craque camaronês

Desde quando apareceu de vez para o futebol, na vitoriosa campanha que rendeu a medalha de ouro para Camarões, nas Olimpíadas de Sidney, em 2000, Samuel Eto;o é tido como uma das maiores estrelas dos Leões Indomáveis. Apesar do reconhecimento dentro de campo, muitos torcedores do país têm como maior ídolo o ex-atacante Roger Milla. Mais do que ser o jogador com mais idade a marcar um gol em um Mundial, ele representou uma geração que marcou uma evolução econômica para o país.

Para o professor de línguas estrangeiras Arnaud Benjamin, 36 anos, a economia e o esporte estão muito interligados em Camarões. Natural de Obala, cidade a 45km da capital Yaoundé, ele chegou em 1996 em Brasília, buscando melhores condições de vida. Recorda que, entre os anos 1980 e 1990, Camarões viveu um dos melhores momentos de crescimento do país, muito por conta do avanço na agricultura familiar. Mas, desde então, ele acredita que o país tem amargado um avanço cada vez mais tímida.

;Camarões precisa de uma mudança política. Desde 1982, temos o mesmo presidente (Paul Biya). O país não avança, e acho que isso se reflete na atual situação da seleção de Camarões. Vivemos problemas sociais e tribais, e todos esses fatores acabam influenciando na evolução e na união de nossa cultura;, avaliou Arnaud. Ele acredita que, por meio do futebol, o país possa voltar a crescer. ;Se houver essa união étnica, isso trará um incentivo grande para o esporte. Para nós, futebol é uma conquista, uma paixão nacional. Tenho fé que, pelo esporte, Camarões volte a ser uma grande nação;, acrescentou.

Benjamin aposta em vitória contra o Brasil
Enquanto o crescimento esperado por Arnaud não chega, ao menos não falta otimismo ao professor, que aposta em uma vitória de Camarões em cima do Brasil na partida desta segunda-feira (23/6). Mesmo sem a confirmação de Eto;o no ataque, ele aposta em outros jogadores para surpreender os milhões de brasileiros e outros apaixonados pelo futebol que assistirão ao jogo. ;Temos Assou-Ekotou, Matip, Song e Webo. Inclusive os reservas são capazes de fazer um bom jogo;, afirmou.

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