Jacqueline Saraiva
postado em 02/07/2014 09:37
Os pais de Maria Eduarda Pinho Lopes sentiram que algo de errado estava acontecendo com ela. Hoje com 4 anos, a criança ainda não emite palavras e rejeita interação com outras da mesma idade. O que eles pensavam ser apenas timidez ou um atraso na fala acabou se transformando em angústia no momento em que procuraram um pediatra em um centro de saúde em Taguatinga, onde moram. O médico pediu ao pai, João Cunha, que procurasse um neuropediatra, para avaliar se a menina é autista. O servidor público reclama que o nome dela chegou a ser cadastrado, em abril, em um sistema de regulação da Secretaria de Saúde do DF (SES) e até agora aguarda uma consulta para uma avaliação do caso. Cunha relata que chegou a entrar em contato com o Hospital da Criança de Brasília, um dos locais onde é feito o acompanhamento, para saber o motivo da demora no atendimento inicial, e foi informado de que até dezembro a unidade médica não teria uma previsão para novos atendimentos. ;São vários brasilienses nessa mesma situação. Meu caso não é único. Fizeram esse cadastro nesse sistema e espero há quase três meses. Uma consulta na rede privada é, em média, R$ 250, e eu não tenho esse dinheiro. Estou de mãos atadas, sem conseguir nem um diagnóstico para minha filha;, lamenta.
Segundo o Hospital da Criança, a menina Maria Eduarda não é paciente de lá. A Secretaria de Saúde explica que a informação repassada aos familiares dela é de que nesta unidade a fila de regulação já está preenchida até dezembro. Ou seja, quando a criança já é direcionada ao Hospital da Criança ela entra em uma fila da regulação, onde são colocados todos os seus dados médicos. Com isso é feita uma classificação pelos médicos, definindo a gravidade do problema do paciente como muito urgente, pouco urgente ou de urgência média a baixa. Maria Eduarda está na fila como paciente de urgência média. O Hospital da Criança acrescenta que não há agenda aberta ou encaixe, ou seja, não é possível chegar diretamente ao local e marcar uma consulta.
A SES explica que a demora no atendimento em todos os centros onde é possível um acompanhamento para crianças com o espectro autista ocorre pela grande demanda, mesmo contando com um bom quadro de neuropediatras, pediatras e psicólogos. Os casos mais severos têm prioridade no atendimento, o que deixa a espera para os demais ainda maior. Em nota, a SES ressaltou que o modo mais fácil para os responsáveis buscarem ajuda é por meio do Centro de Orientação Médico Psicopedagógica (COMPP), na Asa Norte. Tendo um encaminhamento médico da COMPP em mãos, segundo a pasta, a avaliação é feita mais rapidamente e os pacientes já são direcionados exatamente para qual unidade farão o acompanhamento.
Sem estatísticas
Segundo a Associação Brasileira de Autismo (Abra), o Brasil ainda não dispõe de estatísticas oficiais sobre o autismo no país, tampouco no Distrito Federal. A SES também não possui dados sobre quantos atendimentos são realizados na rede pública para essas pessoas. Estudos em outros países têm mostrado um aumento nos casos diagnosticados. Em março do ano passado, uma pesquisa do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, sigla em inglês), demostrou que uma em cada 68 crianças norte-americanas de 8 anos de idade têm autismo. A prevalência do transtorno no país teve um aumento de 30% em relação aos números divulgados em 2012, os quais apontavam que uma em cada 88 crianças dos Estados Unidos era autista. O relatório revelou também que a maioria recebe o diagnóstico após os 4 anos de idade, embora a síndrome possa ser detectada a partir dos 2 anos.
O autismo é definido por um conjunto de comportamentos que variam em grau e gravidade. De acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde, a síndrome pertence aos Transtornos Globais de Desenvolvimento e pode se manifestar de diversas formas. As mais comuns são: Autismo Infantil; Autismo Atípico ou Transtorno Global de desenvolvimento (TGD); Síndrome de Asperger; e Síndrome de Rett.
O tratamento é feito de acordo com as necessidades de cada paciente e depende da complexidade do caso. Os neuropediatras aconselham aos pais que estejam atentos ao comportamento da criança desde os primeiros meses. Quanto mais rápido é diagnosticado, melhores são as chances de garantir qualidade de vida ao autista. Há dificuldades que precisam ser trabalhadas e desenvolvidas durante toda a vida e, além da equipe médica, a família também precisa entender as necessidades da pessoa.
Onde buscar atendimento
Núcleo de Atendimento Terapêutico (NAT/HMIB)
Ambulatório ; Psiquiatria e Psicologia
Pacientes de zero a 12 anos incompletos
Endereço: 608 Sul - Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB)
Centro de Orientação Médico Psicopedagógica (COMPP)
Unidade Ambulatorial de referência em Saúde Mental Infanto Juvenil do Distrito Federal
Pacientes de zero a 18 anos
Endereço: SMHN Qd 3 Bl. ;A; ; Ed. COMPP ( 502 Norte)
Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil (CAPSI/COMPP )
Presta atendimento aos portadores de transtornos mentais graves, tais como: autismo, psicose, distúrbios comportamentais graves entre outros, além de suporte às famílias
Pacientes de zero a 21 anos
Endereço: SMHN Qd 3 Bl. ;A; ; Ed. COMPP ( 502 Norte)
Hospital da Criança de Brasília José Alencar
Atendimento Ambulatorial nas áreas de Psiquiatria da Infância e Neuropediatria
Endereço: SAIN Lote 4-B (ao lado do Hospital de Apoio)
Hospitais gerais da SES que contarem com atendimento de Neuropediatra e Psiquiatra da Infância.
Fique atento se a criança:
- Evita olhar nos olhos;
- Não responde ao chamado;
- Tem atraso na fala ou fala pouco desenvolvida para a idade;
- Não brinca com outras crianças (isolamento);
- Não usa gestos para se comunicar;
- Não entende o gesto de apontar;
- Apresenta estereotipias (sacode as mãos, balança o corpo)
- Comportamentos exacerbados quando contrariados (bater as mãos, bater na cabeça ou se jogar no chão);
- Resistências a mudanças no dia-a-dia;
O diagnóstico não é feito através de exames laboratoriais ou físicos. Em geral, a família ou a escola percebem os sinais do espectro autista, como a demora na fala, repetição de movimentos, entre outros, e só então é que os procuram ajuda de médicos e psicólogos. O diagnóstico definitivo só é dado aos cinco anos, mas, de acordo com a Lei 12.764, qualquer criança tem direito à intervenção precoce. Normalmente, o diagnóstico é feito por psiquiatras ou neurologistas infantis. A maioria dos pais reclama da falta de profissionais que conheçam o autismo.
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