postado em 19/07/2014 08:01
Ao longe, a embarcação chama a atenção. Atracada próxima à Ponte Costa Silva, parece pronta para ganhar as águas do Lago Paranoá. Mas quem se aproxima percebe que o veículo de 20m de comprimento está deteriorado pelo tempo. Dentro dele, não há pessoas preparadas para uma volta no espelho d;água. O ;dono; do barco se apresenta como Adriano Alves, um usuário de crack que há seis meses fez da estrutura moradia. À noite, outros viciados se encontram com Adriano. Protegidos do sol e da chuva, encontraram o lugar ideal para inalar a pedra.
A embarcação está abandonada desde o início do ano e pouco se sabe sobre o proprietário. Um velejador do Paranoá contou ao Correio que o responsável é filho de uma autoridade local. O rapaz teria desistido do veículo fluvial em razão do alto custo para restaurar sérios problemas estruturais. Mas, enquanto ninguém se apresenta para confirmar a versão, o barco se consolida como mais um símbolo do flagelo das drogas que se espalha pelo Distrito Federal (leia Memória).
Dentro dele, é possível constatar a triste realidade. Por todos os lados, há latas de alumínio usadas para o consumo de crack, além de fezes e comida estragada. Num dos ambientes equipados com duas beliches intactas, o mau cheiro exala de longe. Um colchão forrado com um lençol velho e sujo ocupa uma das camas. É onde Adriano dorme.
Vício
Na parte de cima, ele guarda uma panela com restos de macarrão, cinco sacos de pão e centenas de latas furadas e queimadas. ;É a minha coleção;, brinca o viciado, que conta ter afundado nas drogas há seis anos, depois de perder a mãe. Para manter o vício, Adriano passa o dia vigiando carros no Gilberto Salomão, no Lago Sul. As moedas doadas pelos motoristas viram pedras. Outros viciados da região catam latinhas, vendem papelão ou pedem esmolas para comprar o entorpecente. O destino de todos é o barco.