postado em 31/07/2014 06:03
De longe, Sérgio Gabriel Ribeiro parece um homem na idade adulta. Um pouco mais de perto, os traços do rosto colocam a certeza em xeque. Ao conversar com o menino de 2 metros, rapidamente é possível perceber que, na verdade, se trata de uma criança, tem 10 anos. Gosta de filmes de super-heróis e cochicha no ouvido da mãe quando tem vergonha de falar algo. O sorriso lançado vez ou outra durante uma conversa não revela o real sofrimento diário. Gabriel, como é chamado pela família, sofre de gigantismo. Tem um tumor no cérebro, teve diagnosticado retardo mental e é hiperativo. O bullying nas ruas é diário. Na escola, ele não entende muito bem por que os amigos são menores. Muitas vezes, bate a cabeça ao passar pelas portas. Não consegue comprar roupas do tamanho dele e, hoje, tem somente um sapato que cabe no pé tamanho 46.A mãe, Ricardene Barreira Ribeiro, 47 anos, recebe pensão do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de pouco mais de R$ 700, paga R$ 400 de aluguel em casa no Pedregal, bairro do Novo Gama (GO), e afirma: ;Já passei fome para ele poder se alimentar Além do tamanho de gigante, ele come como um;, conta. Todos os móveis da casa são fruto de doação. As roupas também. O problema é que as calças e as camisas de Gabriel não duram muito tempo. Como ele cresce rapidamente, elas ficam curtas e apertadas. ;Não tenho condições de comprar. Nem o chinelo dele está servindo direito. O que posso dar é educação e alimento;, completa a mãe.
A doença foi descoberta quando o menino tinha 4 anos, em 2008, mesmo ano em que o pai dele morreu. Segundo Ricardene, em 2010, conseguiu marcar uma cirurgia para o filho retirar o tumor da hipófise no Hospital de Base do Distrito Federal, mas o procedimento não ocorreu. ;Eles nos colocaram em um corredor, disseram que não tinha maca. O Gabriel tem esse tamanho, mas é uma criança. Ele queria dormir, ficou superenjoado. Quando deu meia-noite, peguei o último ônibus e voltei para casa;, conta Ricardene.
Mãe de 12 filhos, a mulher nunca imaginou que pudesse ver um deles sofrer com uma doença tão rara. ;É difícil porque as restrições financeiras são muitas. Ele tem outros problemas associados e ainda vivemos em uma sociedade preconceituosa;, comenta a mãe. Ricardene mudou-se para o Pedregal há 15 dias. Antes, morava em Santa Maria, onde conseguiu uma escola para o filho. Este é o primeiro ano do menino no colégio.
Ajude
Quem quiser auxiliar a família de Gabriel pode ligar para 9349-8786
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Dificuldades
Em 2011, a Defensoria Pública deu entrada em uma ação para obrigar que o direito à saúde, assegurado na Constituição Federal, fosse garantido a Gabriel. O Hospital de Base do DF enviou um ofício solicitando que o menino fosse até a unidade de saúde para marcar nova consulta, mas Ricardene ficou doente. Um problema no fígado a deixou quatro meses em coma.
Desde então, as coisas pioraram. Ela não consegue fazer o tratamento para a hepatite C porque não tem com quem deixar os dois filhos que moram com ela. Gabriel também não toma nenhum remédio. ;Acho que, no caso dele, é só a cirurgia mesmo;, afirma a mãe. Em decorrência da doença, o menino sente fortes dores de cabeça e já teve convulsões. Com pouco menos de 1,70m, a mãe do menino se desespera durante as crises. ;Não tenho como carregá-lo. Na última crise, saí gritando no meio da rua. Parei os carros e as pessoas me ajudaram.;
Com grande carência, a mulher pede ajuda. Um tênis 46 para o filho, por exemplo. Gabriel, só pensa em uma coisa: ;Queria um aparelho de DVD com controle e filmes de super-heróis. Gosto de todos, do Homem-Aranha, do Hulk, do Quarteto Fantástico;, diz tímido. A cirurgia também está entre os sonhos da moradora do Pedregal. ;Os médicos dizem que não é possível retirar todo o tumor, mas tenho esperanças de que ele melhore;.
Em nota, a Secretaria de Saúde do DF confirmou que, em 2010, o paciente realizou atendimento no HBDF, mas não consta no prontuário nenhuma inserção para procedimento cirúrgico. ;No Distrito Federal, a unidade especializada para esse tratamento é o Hospital Universitário de Brasília (HUB). A secretaria conseguiu marcar uma consulta para o paciente no HUB para a próxima semana;, informa o documento.
Para saber mais
Problema hormonal
O gigantismo é causado pela excessiva secreção do hormônio do crescimento durante a fase de crescimento. Pessoas com o distúrbio podem alcançar estaturas entre 2,30m e 2,72m. Na maioria dos casos, está associado a tumores benignos na hipófise, mas também pode ter relação com outras doenças. Os sintomas são dor de cabeça, altura muito acima da média, entre outros. Geralmente, o gigantismo é detectado por meio de exame de sangue. Um dos tratamentos é reduzir a produção do hormônio do crescimento no corpo ou recorrer a um procedimento cirúrgico se a produção excessiva for decorrente de um tumor.