Helena Mader
postado em 22/08/2014 06:04
Desde a criação da Câmara Legislativa, há quase 25 anos, as relações entre o Palácio do Buriti e os deputados distritais foram marcadas por escândalos de indicações polêmicas, denúncias de compra de apoio e casos de chantagens em troca de votações de interesse do Executivo. Além do escândalo da Caixa de Pandora, três administradores regionais indicados por parlamentares acabaram presos desde o ano passado. A renovação da relação entre o governo e a Câmara é um dos principais temas da campanha, tanto nos debates quanto nas promessas dos concorrentes.
O Correio ouviu os candidatos ao Governo do Distrito Federal e a maioria defendeu um relacionamento transparente, respeitoso e republicano. Todos concordaram, porém, que é preciso estratégia para agradar aos parlamentares e pulso firme para negociar com eles.
O ex-governador José Roberto Arruda (PR) pretende estabelecer uma relação política transparente, que respeite a independência entre os poderes. ;Com a oposição, mantive e terei sempre um diálogo construtivo. E não admitirei mais que deputados sejam donos de administrações regionais;, garantiu. Ele afirma que não vai proibir a participação de deputados no Executivo ;em um caso ou outro;. ;O Brasil é presidencialista, mas tem uma Constituição parlamentarista. Isso se repete nas constituições estaduais. Enquanto esse conflito não for resolvido, ou com a mudança do sistema, ou com a mudança da lei, teremos sempre graves conflitos;, argumenta. ;Tenho consciência de que esse tem sido um obstáculo à implementação de um orçamento mais austero no custeio da administração pública;, finaliza Arruda.
O governador Agnelo Queiroz, candidato do PT à reeleição, afirma que continuará a manter relações saudáveis com a Câmara Legislativa. ;Vou manter essa relação como faço hoje, de forma republicana e com transparência;, assegurou o petista. ;O meu governo acabou com a prática de compra de deputados como aconteceu na gestão passada;, acrescentou Agnelo Queiroz. Ele afirma, entretanto, que não pretende vetar a participação de parlamentares no governo. ;É democrático que um candidato que ajudou a eleger um governo também faça parte dele. Essa é a essência da democracia;, finaliza o governador.
Argumentação
O senador Rodrigo Rollemberg, candidato do PSB, diz que o Poder Legislativo é fundamental para a democracia e garante que, se eleito, as relações com a Casa ;serão republicanas e respeitosas;. ;Os deputados têm o papel deles, independentes ou na oposição, e não cabe ao Poder Executivo discriminá-los em função de posições ideológicas, políticas ou sobre de qualquer tema. Todos serão considerados e respeitados igualmente, e espero que respeito gere respeito;, diz o socialista.
Rollemberg afirma que está aberto a fazer consulta a deputados sobre a condução de políticas e projetos do governo e assegura que vai prestar todas as informações requeridas pelos parlamentares. ;Vamos aprovar os nossos projetos na base da argumentação e da persuasão, não com negociações indevidas. Nenhum deputado vai receber propina;, garante o senador, que promete se reunir com representantes de partidos aliados a cada 15 dias. ;Não haverá loteamento de pastas e cargos;, finalizou o candidato do PSB, que defende eleições diretas para administradores regionais.
Para Toninho do PSol, é impossível governar sem a participação do Legislativo. Mas ele afirma que a relação precisa ser de ;absoluta autonomia e transparência;. ;No governo Cristovam (Buarque), tínhamos uma bancada de apenas cinco deputados distritais e, ainda assim, conseguimos ter uma relação interessante com a Câmara Legislativa. O governador recebia os deputados do governo e também aqueles da oposição afeitos ao diálogo;, conta Toninho, que, à época, ocupava a Secretaria de Administração.
O deputado federal Luiz Pitiman, candidato do PSDB, promete fazer um grande entendimento entre o governo e os 24 distritais. ;Tenho certeza de que todos os eleitos estarão comigo nessa caminhada. Teremos uma relação respeitosa e democrática, baseada em um novo modelo, diferente do que vem norteando a relação dos parlamentares com o Executivo;, afirma Pitiman. ;Além disso, as mudanças que faremos nas administrações regionais permitirão que parlamentares queiram estar com o governo. Governaremos com menos partidos e mais tranquilidade;, finaliza o tucano.