Jornal Correio Braziliense

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Jingles para campanhas eleitorais chegam a custar R$ 30 mil no DF

Produtores locais e nacionais aproveitam a época para lucrar e afirmam que "é um ótimo negócio no Distrito Federal"



Conhecidos por grudar na cabeça de quem escuta, os jingles políticos são uma peça-chave para a campanha eleitoral dos políticos e dão o que falar durante o período eleitoral. As músicas, conhecidas por seu efeito "chiclete", servem como isca para chamar atenção do eleitor e deixar as marcas do aspirante ao cargo público em um bom refrão. Quem trabalha na área chega a faturar R$ 30 mil por canção e produtoras disponibilizam até sites para facilitar a entrega das canções.

Aproveitando os hits atuais, produtores musicais se arriscam e usam o momento para lucrar. Pedro Augusto Alves de Oliveira, por exemplo, é compositor independente e trabalha há 2 anos com a criação de músicas para campanhas eleitorais. Morador de uma cidade do entorno de Brasília, ele ressalta que a produção garante um bom negócio. "Como são ferramentas muito utilizadas durante as eleições brasileiras, é um mercado que vale a pena investir e dá para fazer uma graninha boa", afirma.

Para a comerciante Andressa Lins, a ferramenta funciona mesmo quando não agrada. "Nem todas as músicas deste tipo são boas, algumas são até engraçadas, mas a gente fica cantando o dia inteiro. Então, acho que cumprem o seu papel", opina. Porém, nem todo mundo é fã da ação. "Eu não gosto, mesmo quando as músicas são engraçadas. Não é uma música que definirá meu voto, mesmo que eu fique com o número do candidato na cabeça. Mas, entendo que seja uma estratégia para muita gente", explica a universitária Patrícia Guedes, de 25 anos.

"Essas mensagens devem ser curtas, sintéticas e capazes de expressar a identidade do candidato para apresentar, de forma descontraída e clara, as propostas da campanha", é o que afirma o cientista político Carlos Alexandre Azevedo. Para o produtor musical Moacir Nunes, o efeito deve ser o mais positivo possível. "O som tem que ser agradável e tentar não irritar as pessoas também é muito importante. É melhor que seja divertido. Quando faz as pessoas rirem ou se alegrarem, já é um ótimo sinal", explica.

Nunes, que trabalha na área há um ano, também explica que o primeiro passo é conhecer bem as intenções do candidato. "A gente primeiro conversa muito, eu procuro entender as vontades e, é claro, as propostas da campanha eleitoral dele", explica, salientando que o uso de palavras-chaves são essenciais. "A gente geralmente escolhe algumas palavras que deverão ser repetidas durante a música. São palavras que devem remeter às propostas do candidato ou que sejam uma marca pessoal", completa.

Muitos sites também oferecem o serviço e o orçamento completo. Estúdios especializados chegam a garantir a entrega em até 48 horas. Nesses casos, basta o candidato se interessar e requisitar o pedido de forma on-line. É possível, inclusive, escolher o ritmo, o tipo de voz que será usada (feminina ou masculina), a duração, as palavras-chaves, o slogan da campanha, além de fornecer outras informações que possam acrescentar para a criação do jingle.



Do axé ao sertanejo

Segundo os profissionais, os estilos musicais que embalam os jingles tendem a variar de acordo com as regiões, mas, segundo o produtor Nando Pinheiro, que tem um estúdio em São Paulo, mas atende clientes em Brasília, os candidatos da capital federal preferem investir em produções que tenham mais repetições do nome. "Pela proximidade com o estado de Goiás, o ritmo mais requisitado da cidade acaba sendo o sertanejo universitário, que é uma tendência geral", conta.

Em Brasília, o custo inicial de um jingle está em torno de R$ 300, mas pode chegar a mais de R$ 30 mil, dependendo do que o candidato solicitar. "Os valores variam de acordo com a necessidade e orçamento do candidato. O que diferencia é a ;cerejinha; a mais que você pode colocar na produção", explica Nando Pinheiro. Os preços também variam dependendo do tipo do trabalho realizado. "Alguns são mais simples, mas não menos qualificados, outros possuem mais vozes, sons ou até mesmo a participação de artistas famosos", completa.

Há pouco mais de um mês das eleições, ainda existem candidatos correndo atrás destes serviços. "Sempre tem aqueles que deixam mais para última hora, geralmente deputados e senadores. Os últimos trinta dias ainda são cruciais e ainda devemos receber muita demanda", espera Nando.

Para ele, o jingle pode ser o responsável por abrilhantar uma campanha. "O jingle se torna um talismã para o candidato que já ganhou. De repente com a mesma letra e uma nova roupagem, ele volta a utilizar a música, que vira sua marca. É gratificante participar desse processo e saber que fizemos parte do sucesso de uma pessoa", finaliza.



Parte da história

O especialista Carlos Alexandre Pinheiro lembra que jingles políticos surgiram na indústria fonográfica brasileira em 1905 e já embalaram campanhas eleitorais de muita gente importante. Em Brasília, políticos como Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros contaram com essa peça para manifestações de apoio eleitoral.

E quem não se lembra da música Lula, lá? Brilha uma estrela (...). Esse refrão ;chiclete;, que marcou a primeira campanha à Presidência da República de Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, ficou na memória de muita gente por muito tempo. Outros exemplos marcaram época como o jingle ;Boto fé no velhinho; para a campanha de Ulisses Guimarães, ;Ei, ei, mael; para o também candidato à Presidência José Maria Eymael, ;Juntos chegaremos lá; para Afif Domingos e outros.


Jânio Quadros

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Juscelino Kubitschek

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Afif Domingo

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