Cidades

"Ao me ver, a mulher segurou a bolsa", relata homem negro vítima de racismo

Muitos são os casos de preconceitos que os negros vivem todos os dias. Veja, a seguir, o relato de duas vítimas de discriminação racial

Helena Mader
postado em 12/09/2014 08:22

Muitos são os casos de preconceitos que os negros vivem todos os dias. Veja, a seguir, o relato de duas vítimas de discriminação racial

;Coisa mais desagradável;


;Passaria o dia inteiro contando histórias que vivi de preconceito ao longo da minha vida. Uma vez, saindo de um hotel, no Rio de Janeiro, fui para a esquina da rua, isso na Zona Sul, e fiz sinal para os táxis. Eram 6h. Todos os carros passavam vazios, mas nenhum parava. Tentei, tentei e nada. Voltei para o hotel e pedi para que um dos funcionários me arrumasse um carro. O rapaz, de cor branca, saiu, fez o sinal, e o táxi parou. Indignado, contei ao taxista o tempo que tinha perdido tentando um carro. Ele foi sincero e claro: ;Senhor, a essa hora da manhã, ninguém para para um homem negro.; Ele só me comprovou o que eu já sabia. Em Brasília, outro caso típico de preconceito. Eu moro no Sudoeste e fui ao supermercado. Ao sair, prestes a atravessar a rua, fiquei atrás de um casal. Parei afastado, como sempre faço, já cabreiro com a reação das pessoas. Mas, mesmo assim, a senhora me olhou e, na mesma hora, agarrou o braço do marido e segurou a bolsa. Eu vi isso. Não existe coisa mais desagradável no mundo. Foi puro preconceito. A vontade era de explicar a ela quem eu era. Que era negro, sim, mas que era um psicanalista, morador do Sudoeste e que não roubaria a bolsa dela.;

Roberto Menezes Rodrigues, psicanalista


;Nega vagabunda, safada;

;Existem pessoas que têm preconceito por opção. Por querer magoar, agredir e ferir o outro. A pessoa que me dirigiu palavras de preconceito foi além do problema racial. Foi uma discriminação pela minha profissão também. Isso foi em 4 de fevereiro deste ano. Estou casada há um ano, e a ex-mulher do meu marido me atacou. Estávamos em um bar perto da casa dela. Nesse dia, o meu marido foi pegar material escolar para as filhas dele. Eu fui junto, e ela soube. Quando me viu, começou a gritar: ;Sua nega vagabunda, safada;. Ela virou para mim e falou que, enquanto eu lavava banheiro dos outros, ela ia para a universidade estudar. Fiquei muito transtornada na hora. Ela me chamou de muitas coisas. O que ela fez foi, sim, racismo. Mas, além disso, foi injúria. Trabalho como faxineira, pagam bem, e ela não tem o direito de fazer isso. Na hora, não consegui fazer nada, mas, depois denunciei. Fui à delegacia, registrei ocorrência, e o caso está no Ministério Público. Mas não adianta porque ela faz isso sempre que pode. Tenho várias amigas que são agredidas por ela também. Na casa dessa mulher, ela fica ensinando as filhas a me chamarem de ;neguinha; quando vão para a minha casa. Mas, mesmo assim, ela ficou me perseguindo. Vou ficar na cola desse processo. Vou correr atrás porque isso tem de andar, e ela terá de responder por isso.;

Aleck Sandra Gomes Ferreira, 31 anos, diarista

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