A história do Brasil se confunde com a história da cachaça. Atualmente o destilado mais popular do país vive seus dias de glória, mas também já passou por dificuldades antes de se firmar na cultura brasileira. A fabricação da bebida criada por escravos nos engenhos de cana-de-açúcar chegou a ser proibida pela Coroa Portuguesa. ;Eles queriam proteger o mercado do bagaço, um destilado que é resultado da fermentação da uva e impulsionava a economia portuguesa;, esclarece Vicente Bastos Ribeiro, presidente do Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC). Após duas proibições de Portugal, a fabricação do destilado foi definitivamente autorizada em 13 de setembro de 1661, fato histórico que impulsionou a criação do Dia Nacional da Cachaça. ;Além de comemorarmos esse marco, nosso objetivo é divulgar o produto e sua importância cultural e econômica de uma bebida 100% brasileira;, ressalta Vicente.
Bebida presente na icônica caipirinha, o destilado de cana-de-açúcar passa por uma fase de expansão no mercado nacional. ;É preciso quebrar paradigmas e desconstruir o preconceito e desconhecimento em torno da bebida. Valorizando um produto que é nosso geramos um efeito dominó que beneficia desde o grande até o pequeno produtor;, avalia Gilson Rosa, professor do curso de sommelier de cachaças do Senac. Dados do IBRAC apontam que anualmente são produzidos cerca de 800 milhões de litros da bebida.
Assim como outros destilados consagrados, a cachaça também pode apresentar variações. A espécie de cana-de-açúcar e as madeiras utilizadas no processo de envelhecimento da bebida - como carvalho, ipê e amburana - garantem um amplo leque de opções aos apreciadores. Culturalmente, o destilado é conhecido por sua produção artesanal nas áreas rurais do país e ainda sobre os impactos da indústria informal. Segundo dados do IBRAC, menos de 2 mil produtores e 4 mil rótulos são foram devidamente registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Após observar a deficiência de registros do produto, o cineasta Felipe Jannuzzi viu como um hobby o mapeamento de alambiques pelo Brasil. Após terminar a faculdade, em 2011, criou em parceria com a cineasta Gabriela Barreto a plataforma Mapa da Cachaça. A ideia inicial era disponibilizar produções audiovisuais sobre o tema além de oferecer ferramentas de registro colaborativo da bebida. A ação se potencializou e se transformou em referência nacional de pesquisa do produto. ; Nós queríamos aliar turismo, história e gastronomia mapeando os alambiques de uma bebida que é tão simbólica para a nossa cultura. Ainda há muito a se descobrir sobre essa bebida que é tão abrangente;, ressalta Jannuzzi. O grupo percorreu mais de 20 mil km em vários Estados brasileiros e mapeou mais de 800 rótulos de Norte a Sul do país.
Mercado e perspectiva
A importância econômica da cachaça ainda ocupa grande fatia de consumo no mercado interno. Segundo dados da IBRAC (Instituto Brasileiro de Cachaça), o consumo por brasileiros chega a 99%. Tímida, a porcentagem de exportação varia entre 0,5% e 1%, grande parte ocupada por países como Alemanha, Paraguai, Portugal e Estados Unidos. ;Hoje a cachaça gera em torno de 600 mil empregos indiretos e 450 mil empregos diretos. Não podemos ignorar a importância desse mercado. Os órgãos reguladores são boas maneiras de garantir um padrão de qualidade e atingir uma fatia maior do mercado internacional;, destaca Gilson Rosa.
Um projeto de lei criado em 2011 prevê a consolidação da cachaça em âmbito mundial. Se aprovado, só será denomiada cachaça, a bebida que segue os processos de fabricação dentro do território nacional. ;O futuro da cachaça é promissor. Em nenhum outro lugar do mundo há bebidas que envelhecem nessas madeiras brasileiras. É preciso elevar os padrões de qualidade e proteger uma bebida fabricada em todo o país. Lutamos para que ela seja reconhecida como um destilado de referência, assim como a tequila, o pisco e o whisky;, afirma Vicente Bastos Ribeiro, presidente do IBRAC.
Confira casas onde é possível provar a bebida.
Adega da Cachaça
(Avenida das Palmeiras, Lote 11, loja 4, Taguatinga; telefone 3964-0882), aberto diariamente, das 9h às 2h.
Água Doce Cachaçaria
(412 Sul, Bloco A, loja 3; telefone 3345-7196), aberto de terça a sábado, das 17h até 1h. Domingo, das 12h às 16h.
Baby Beef Rubaiyat
(Setor de Clubes Esportivos Sul, Trecho 1, lote 1; telefone 3443-5000), aberto de segunda a sábado, das 12h às 0h30. Domingo, das 12h às 18h.
Empório da Cachaça
(405 Sul, Bloco D, loja 26; telefone 8550-7378), aberto diariamente, das 9h às 2h.
2; Clichê
(107 Norte, Bloco C, loja 57; telefone 3201-5749), aberto de segunda a quarta, das 17h até 1h. Quinta a sábado, das 17h às 2h.