postado em 14/09/2014 17:07
A produção de cervejaria artesanal não é uma atividade exatamente nova, mas, nos últimos anos, o interesse pela prática - e, principalmente, a degustação da bebida - cresceu consideravelmente no Distrito Federal. Segundo os donos de bares e de lojas especializadas, o aumento na procura se dá principalmente pela curiosidade dos consumidores em sair do convencional e provar algo novo. Para se ter uma ideia, somente no último Dia dos pais as vendas cresceram 40% em um quiosque especializado que comercializa a bebida na cidade.
O preço não é dos mais baratos. Uma garrafa com 350 ml pode custar entre R$ 10 a R$ 180, dependendo de onde a bebida é fabricada. Por isso, em Brasília, o público que procura pelo produto é considerado de média e alta renda, formado principalmente por homens na faixa de 30, servidores públicos e de pessoas que já provaram esse tipo de cerveja em outros países. No entanto, com a procura crescente em Brasília, aos poucos esse perfil vem mudando e hoje já é possível encontrar jovens e mulheres que se interessam pelos novos sabores.
O malte usado e a quantidade de lúpulo são usados para definir o sabor final da cerveja, por isso, o vendedor de uma tradicional cervejaria artesanal do Plano Piloto, Anderson Saraiva Pinto, 37 anos, diz que faz uma triagem com cada cliente antes de indicar uma cerveja. ;Eu pergunto se ele gosta das mais amargas ou adocicadas. Também ajuda saber que cerveja (vendida em mercados) ele costuma beber;. Entre as várias opções disponíveis, Anderson recomenda as bebidas de origem alemã e belga para quem vai experimentar o produto pela primeira vez. ;Elas são as mais fáceis de beber porque não amargam tanto;, explica.
O biólogo Matheus Andreozzi, 34 anos, admite que nunca foi um fã das cervejas tradicionais, vendidas em mercado, mas há tempo experimenta as novas marcas artesanais. "Sempre dei preferência aos destilados e só bebia cerveja com os amigos, agora tenho melhorado meu paladar para as artesanais;. Já o músico Silvan Carlos Nunes, 25 anos, descobriu na cerveja um novo jeito de beber. ;Não é uma bebida para excessos, a cerveja artesanal é boa para degustar, até porque o preço e o teor alcoólico são maiores;.
Produção própria
A vontade de beber e a curiosidade fez crescer também o número de cervejeiros artesanais no DF. A Associação Cerva Candanga, que é um grupo de pessoas que produzem em casa a própria cerveja e que se reúnem regularmente para trocar experiências, conta atualmente com 24 membro. O médico veterinário Heitor Teixeira, 29 anos, e o publicitário Vicente de Paula, 31 anos, são dois deles e contam que conheceram a técnica por meio de um amigo e acabaram se arriscando nos maltes e nos tonéis.
Depois de realizar muita leitura especializada, eles começaram a própria produção, com investimento inicial de R$ 500. ;A gente já conhecia o processo, mas não sabia ao certo o que fazer. Começamos a pesquisar em alguns sites, em alguns programas de computador e aplicativos;, conta Vicente. O Beer Smith, um app de celular que auxilia desde as medidas dos ingrediente até a tonalidade da cerveja, foi um dos programas utilizados pela dupla durante o período de aprendizagem.
Eles contam que no início a produção era feita em garrafões de 20 litros de água. No entanto, com o aumento do interesse dos amigos, o armazenamento passou a ser feito em galões de 60 litros, o que garante, aproximadamente, 90 garrafas. O sucesso foi tanto que Heitor e Vicente criaram, inclusive, a própria marca, a Cruzburbier. A ideia agora é ampliar a produção com novos sabores. ;O lance é a experimentação. Claro que cada pessoa tem seu segredo, mas como é manual, não tem como sair sempre igual;, diz Vicente.
Em média, para cada 20 litros de cerveja é necessário 6 kg de malte, 20 litros de água, 25g de lúpulo, responsável pelo amargor da bebida, e fermento. Para a produção, Heitor e Vicente contam que compraram alguns equipamentos usados, mas acabaram produzindo alguns outros. O investimento inicial, que contempla a aquisição de panelas, resfriador, mangueiras, garrafas, densímetros, entre outros aparelhos, custa em torno de R$ 1,6 mil.
Especialização
A Universidade de Brasília (UnB) é a única no país a oferecer a disciplina de Fundamentos da Produção da Cerveja junto à graduação do curso de química. Assim que foi oferecida na UnB, no primeiro semestre de 2013, a disciplina teve a procura de 212 alunos de várias graduações, incluindo história, filosofia e direito. No entanto, deviado a alta demanda, apenas 26 puderam cursar. Por isso que, atualmente, a disciplina é oferecida apenas aos alunos de química.
A cervejaria artesanal, porém, ainda não é regulamentada pelo Ministério de Agricultura e Meio Ambiente (MAPA). Um dos principais fatores é a grande carga de resíduos produzidos no processo. Para cada cinco quilos de malte são gerados cerca de nove quilos de compostos.