Ana Dubeux, Ana Maria Campos
postado em 14/09/2014 06:30
José Roberto Arruda dormiu na sexta-feira por volta da 1h. Duas horas depois, acordou. Foi para o computador e escreveu um testemunho. Mais uma vez, precisava elaborar uma renúncia. A terceira despedida em duas décadas da carreira política. Desta vez, no entanto, tenta deixar parte do legado para uma sucessora, a mulher, Flávia Peres Arruda. Foi a opção que encontrou depois de perder sucessivas batalhas judiciais e trombar com a Lei da Ficha Limpa. Fora das eleições, ele diz que vai sair também da vida pública.
Vai mergulhar na campanha, pedir votos para a dupla Jofran Frejat e Flávia e buscar, por meio deles, vencer os adversários. Em entrevista ao Correio, o ex-candidato ao Palácio do Buriti ataca os adversários do PT, a quem acusa de tentarem levar a eleição no tapetão. Arruda jura que não terá participação num eventual governo conduzido pela chapa que apoia e vai se dedicar agora à família.
No episódio da violação do painel, Arruda disse que se sentia como se estivesse assistindo ao próprio velório. Na crise da Operação Caixa de Pandora, descreveu a cena como um grande desastre de trânsito em que há muitos feridos, alguns mortos. Desta vez, ele define o momento como uma injustiça, uma frustração. Afirma que sente a dor de uma mãe que tem um filho com deficiência, mas que transforma a adversidade num projeto de vida. A seguir, cenas dos próximos capítulos.
O senhor tem um capital político, conforme as pesquisas mostraram, que é seu. Como pretende administrar esse capital político daqui para frente?
Achava que era meu. Mas hoje percebi que é daqueles que me dão o capital político. É a primeira vez que vejo de forma clara: a minha responsabilidade com as pessoas, com a população, é maior do que a minha ambição pessoal, do que o meu projeto político. A única maneira de honrar essa confiança e esse respeito das pessoas é apoiando um projeto que acredito para poder resgatar Brasília. Por isso, a escolha do Frejat. É o homem mais preparado, mais experiente para levar a cabo esse projeto. Por isso, a escolha do Gim, o senador que mais traz dinheiro para Brasília. E a presença da Flávia na chapa, até contra a vontade dela, é para dar o sinal claro ao meu eleitor que eu estou de corpo e alma nessa campanha.
O senhor vai fazer campanha?
Vou fazer campanha. Vou para a rua, vou fazer tudo o que quiserem de mim. Estou à disposição do Frejat e do Gim. Vou a todas as comunidades onde assumi compromisso. Vou voltar com eles, para dizer que eles honrarão os meus compromissos. Todos os compromissos que eu assumi, do pequenininho ao maior, estou convencido de que serão honrados por essa chapa que vou apoiar. Vou de corpo e alma para a campanha.
Qual vai ser o seu papel no próximo governo?
Nenhum papel. Aí, a gente tem que saber o limite das coisas. Uma coisa é usar o meu capital político para apoiar uma chapa, para não deixar órfão o meu eleitor, para que esses segmentos majoritários da população que me apoiam não fiquem sem opção. Depois que eles ganharem, aí é com eles. Porque, senão, seria uma interferência absolutamente indevida. Eu sei o meu lugar. A partir daí, acho que mereço um descanso. Vou cuidar das minhas filhas, das minhas netas. Vou ser do lar. Deixa que a Flávia agora trabalhe.
E qual será o papel da Flávia?
O principal papel é avalizar esse compromisso e o cumprimento desse acordo político, que é muito claro, transparente, não tem nada embaixo da mesa. O compromisso político é honrar todos os compromissos que fiz com a população que meu deu no último trecking 44% de intenção de voto. É isso.
Fica difícil acreditar que, com a sua história política, o senhor não vá participar desse governo, inclusive porque a presença da Flávia indica isso.
É claro que a presença da Flávia é para honrar os meus compromissos. Mas dou aqui uma palavra definitiva: eu não exercerei nenhum cargo. Ponto.
Mas essa questão de não exercer cargo, o ex-presidente Lula não exerce cargo no governo Dilma e tem influência. O senhor seria o Lula do DF?
Não, e vou te explicar por quê. Os caminhos de Deus, né? O Frejat é muito mais competente e muito mais preparado do que eu. Tivemos caminhos diferentes, ele foi com mais paciência, eu com mais ímpeto, mas ele não teve os acidentes de percurso que eu tive, exatamente por ter uma velocidade mais moderada. O Frejat é muito bom de debate, é articulado, conhece Brasília como ninguém. Tem uma obra por Brasília que ninguém pode negar. Não estou indicando uma solução doméstica, uma solução menor. Estou saindo da política.
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