postado em 12/10/2014 13:39
"O DF é modelo de cidadania quando o assunto é o respeito ao pedestre, certo? Bem, digamos que há controvérsias. Primeiro, é preciso entender quem é o pedestre. Ser um pedestre é menos que ser uma pessoa. Ser pedestre é uma condição que só faz sentido quando se está pensando no veículo. E aí o pedestre aparece quase sempre não como alguém que tem suas próprias necessidades e anseios, mas como um problema, um obstáculo a ser removido para facilitar o fluxo. Ou não é assim que pensamos quando fazemos pessoas subirem a uma passarela ou descerem a uma passagem subterrânea, afastando-as de seus caminhos naturais, tudo para que veículos não precisem parar ou desviar-se de suas rotas? Depois devemos ver o que nossas cidades fazem com as pessoas quando elas não estão nas rotas dos veículos.Mais efetivo do que citar exemplos de descaso seria cada um de nós experimentar a vida de pedestre ao longo de um dia inteiro pelo menos uma vez por mês. Melhor ainda: todos os governadores, administradores regionais, prefeitos de quadras, síndicos de blocos etc. deveriam passar um dia inteiro por semana se deslocando pelas áreas que administram, mas numa cadeira de rodas ou com os olhos vendados. Deputados poderiam fazer o mesmo. Creio que em pouco tempo, deixaríamos de falar em pessoas com deficiência e reconheceríamos que os espaços que produzimos é que são deficientes de cidadania.;
Paulo Cesar Marques da Silva é professor
do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB