postado em 15/10/2014 20:35
No Cariri cearense, região que registrou 220 feminicídios nos últimos dez anos, segundo dados do Movimento Frentes das Mulheres do Cariri, as mulheres continuam sofrendo com a falta de medidas que combatam esse tipo de violência. Mas, a cada dia, é mais intensa a luta delas por mudanças. ;As dificuldades são imensas, mas a luta por políticas públicas e por alternativas para que tenhamos vida em abundância tem muita beleza;, disse Verônica Carvalho. Segundo ela, discutir essa realidade é fundamental para fortalecer a luta contra a opressão de gênero.Verônica é uma das participantes do Seminário Internacional Mulheres: Fome, Pobreza e Tráfico Humano, promovido pela Cáritas Brasileira, organização humanitária vinculada à Igreja Católica. A iniciativa integra a campanha internacional Uma Família Humana: Pão e Justiça para Todos, também articulada pela Cáritas e com parcerias da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Pastoral da Mulher Marginalizada e da entidade norte-americana Catholic Relief Services.
Na programação do seminário estão previstas palestras, grupos de discussões e atividades culturais que buscam evidenciar a situação das mulheres na América Latina. Segundo a vice-presidenta da Cáritas Brasileira, Anadete Gonçalves, ;a ideia é falar da fome, da pobreza e do tráfico, a partir de um olhar feminino, para com isso construir uma plataforma com propostas de políticas para a equidade de gênero;.
Logo na abertura do evento, a professora da Universidade de Brasília (UnB) e integrante da coordenação da Rede Ibero-Americana de Prevenção e Cidadania de Pessoas em Situação de Violação de Direitos, Maria Lúcia Leal, disse que as mulheres sofrem mais com a pobreza, mesmo quando estão inseridas no mercado de trabalho formal, onde elas trabalham mais, mas ganham menos proporcionalmente que os homens. ;A pobreza tem que ser explicada pela questão das desigualdades, que precisam ser descortinadas;, defendeu.
;Para as mulheres, a realidade de carência é mais aguda, já que realizam inúmeras atividades que não são remuneradas, o que faz com que muitas vezes sejam dependentes financeiramente;, disse Maria Lúcia, para quem o cuidado da casa e da família são exemplos de atividades não pagas. Conforme a professora, é preciso entender que a pobreza está relacionada à forma de organização social e envolve, além da questão da renda, as diversas desigualdades, a exclusão social e a exposição das mulheres a situações de vulnerabilidade.
Uma dessas situações é a do tráfico de pessoas. Segundo a pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Márcia Maria de Oliveira, os últimos anos registraram aumento do tráfico de mulheres, que, de acordo com ela, têm sido levadas a migrar para fugir de situações de dominação, por causa das mudanças no mundo do trabalho, ocorridas após a crise econômica mundial ou, especialmente, devido à crescente indústria internacional do sexo, ;setor da economia que mais cresceu em plena crise;, destacou.
A situação é mais comum do que se imagina, segundo a CNBB, que este ano fez do tráfico humano o tema da Campanha da Fraternidade. Participante do seminário, o representante da entidade, dom Leonardo Ulrich Steiner, disse que ficou ;admirado com quantas pessoas nos buscavam para dar testemunhos de alguém que já foi explorada ou traficada;. Com as discussões, ;eu creio que quando chega um convite para ir para o exterior, as pessoas agora ficam mais atentas e com uma cautela muito maior;, avaliou.
O seminário segue até sexta-feira (17), em Brasília. O evento também conta com a Cáritas da França e Espanha, além das secretarias de Políticas para as Mulheres da Presidência da República e a de Segurança Alimentar e Nutricional, do Ministério do Desenvolvimento Social.