Cidades

Era da economia criativa: as boas ideias que movimentam diferentes setores

O Correio publica, a partir de hoje, série de reportagens sobre o segmento que aposta nas boas ideias e no talento individual como forma de se alcançar o sucesso nos negócios. Nesse sentido, vale desde o desenvolvimento de software a um produto de design artesanal

Flávia Maia
postado em 21/10/2014 06:04
Os irmãos Igor e Alexandre desenvolvem drones para fazer sensoriamento remoto via imagens:
Uma ideia na cabeça e o que fazer com ela. Em um mercado com produtos e serviços cada vez mais massificados, uma proposta diferente pode ser a garantia de uma boa oportunidade de negócio. A criatividade como estratégia empresarial ganha fôlego nas mãos de empreendedores e está cada vez mais presente na economia brasileira e do Distrito Federal. São produtos e serviços inovadores, como uma mercadoria de design arrojado ou um software de tecnologia local que resolve problemas na lavoura. Dessa forma, o espírito empreendedor, aliando-se à chamada economia criativa, traz soluções de mercado. O Correio publica a partir de hoje e durante três dias uma série de reportagens sobre o crescimento desse segmento no Brasil e no DF.

Em tempos de economia com o crescimento abaixo do esperado e com criação estável de empregos, a cadeia criativa ganha significado e aparece como uma solução mercadológica. ;A gente vê uma moçada dinâmica, jovem e muito qualificada apostando em uma ideia, com vontade de empreender. Com um plano de negócios, esse capital humano se torna essencial para o bom desenvolvimento de uma empresa;, afirma o diretor técnico do Sebrae Nacional, Carlos Alberto dos Santos.


Segundo o mapeamento Indústria Criativa no Brasil, realizado pela Federação da Indústria do Rio de Janeiro, nos últimos cinco anos, o crescimento anual desse segmento foi de 6% e movimenta no país cerca de R$ 110 bilhões, o que corresponde a 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Dados do Sebrae mostram uma cifra mais volumosa ; R$ 152 bilhões. No Distrito Federal, o setor é o mais expressivo, representa 3,7% de todas as riquezas produzidas na capital do país, correspondendo a R$ 6,2 bilhões anuais.

Para o superintendente do Sebrae-DF, Antônio Valdir Oliveira Filho, a capital do país tem um ambiente propício para o desenvolvimento das atividades criativas, uma vez que Brasília não tem um parque industrial significativo. ;A economia local baseia-se em comércio e serviços, portanto, é preciso criar oportunidades nessas áreas;, defende. Segundo dados do Sebrae, o DF é a segunda unidade da Federação com maior potencial de mercado criativo. Perde apenas para o Rio de Janeiro.

O cenário favorável brasiliense permite o surgimento de empresas como a Frida sem Calo, da artesã Rosângela Vieira Oliveira, 33 anos. A marca existe desde 2013 e surgiu de uma inquietação dela de fazer calçados autorais e confortáveis. ;Eu percebia que todo sapato me machucava, incomodava. Aí, resolvi fazer os meus. Eu achei que, por serem esquisitos, ninguém ia querer, mas, no fim, teve uma saída muito boa;, conta. Rosângela fez curso em São Paulo e produz, por mês, cerca de 30 pares. Os exemplares são únicos e vendidos a R$ 200. Atualmente, ela tem mais 4 mil seguidoras nas redes sociais. ;O mercado criativo tem muito de histórias pessoais, e eu fico feliz em criar um sapato e ver que uma pessoa com um determinado estilo se encontrou no que eu fiz.;

O Correio publica, a partir de hoje, série de reportagens sobre o segmento que aposta nas boas ideias e no talento individual como forma de se alcançar o sucesso nos negócios. Nesse sentido, vale desde o desenvolvimento de software a um produto de design artesanal

Valor agregado
Países europeus como a Inglaterra apostam na economia criativa como forma de trazer para o mercado mundial produtos de maior valor agregado e diferenciais em um comércio em que a China, por exemplo, produz em grande escala os mesmos produtos. No fim da década de 1990, os britânicos mapearam as cadeias criativas do país a fim de mostrar o vasto potencial do setor na geração de empregos e de riqueza. Atualmente, segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), a área movimenta US$ 624 bilhões anuais em todo o mundo.

Pequenas por essência, as empresas criativas mostram que o capital humano pode ser o diferencial no sucesso do negócio. O dinheiro e a tecnologia continuam importantes, mas não as únicas respostas. Para o professor de empreendedorismo da Fundação Getulio Vargas Newton Campos, é preciso lembrar que a criatividade sozinha não faz uma empresa progredir. ;Não podemos ficar só com o mito de que a ideia vai levar a empresa para a frente. No fundo, empreendedores de sucesso não foram construídos apenas em cima da ideia, mas de experiência e redes de contato;, analisa.

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A TerraSense é um exemplo da importância em aliar ideia com experiência e rede de relacionamentos. A empresa, incubada no Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da Universidade de Brasília, existe desde 2012 (veja Vocabulário). É fruto do esforço dos irmãos Richwin Ferreira e do sócio Ticiano Bragatto, engenheiro eletricista. Igor, 34 anos, é biólogo, e o irmão, Alexandre Moreno, 28, geógrafo. Eles perceberam que poderiam montar Veículos Aéreos Não Tripulados (Vant) e usá-los para o sensoriamento remoto via imagens. ;Vimos que os drones poderiam diminuir o preço de serviços de mapeamento porque são equipamentos mais baratos do que satélites e aviões tripulados. Focamos na agricultura de precisão e na topografia;, explica Alexandre. Hoje, a TerraSense opera só voos de pesquisa porque a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ainda não regulou o uso comercial.

Conceito
Nessa série de reportagens, será usado o conceito do Departamento de Cultura, Mídia e Esportes do Reino Unido, no qual a economia criativa é formada por atividades com origem na criatividade, na perícia e no talento individual. Além disso, devem ter potencial para criação de riqueza e empregos por meio da exploração de propriedade intelectual.

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