As 45.981 autuações registradas por estacionamento irregular nos primeiros seis meses do ano representam mais de 35% de todas as multas aplicadas por esse desrespeito em 2013 ; no ano passado, o Departamento de Trânsito (Detran) aplicou na capital federal 129.647 mil. O índice reforça que um veículo parado ilegalmente é mais do que uma infração. Em termos amplos, significa também o colapso de um modelo de transporte que privilegia a concepção individual em detrimento do espaço público. Com isso, o excesso de veículos estacionados nas vias não só reduz a fluidez como compromete drasticamente a segurança.
A solução, para especialistas, não é ampliar a quantidade de vagas em ruas, mas investir em transporte público e na educação dos cidadãos. Em Brasília, o problema é sensível na área central da cidade, onde veículos se amontoam na Esplanada dos Ministérios e nos setores comerciais, de autarquias e bancários Norte e Sul. As filas se multiplicam em duas, três ou quantas vezes for possível sem obstruir completamente a área de circulação nos estacionamentos. O aperto é tanto que o pastor Gerson Rodrigues, 45 anos, não sai de carro sem estar acompanhado de alguém habilitado. ;Criei um cargo, o de auxiliar de estacionamento. Se eu vou resolver algum problema de carro, trago alguém que possa manobrá-lo ou circular atrás de uma vaga enquanto eu vou aonde preciso;, conta.
Não faltam leis para regulamentar a situação, de acordo com o diretor de pesquisa e desenvolvimento do Observatório Nacional de Segurança Viária Paulo Guimarães. ;Falta o governo executar os projetos para transporte de que tanto se fala;, acredita. Assim, cada vaga inventada revela que o público se deturpa em ocupação privada. ;Podemos falar em apropriação indevida daquilo que é usado por todo mundo. A gente tem uma dependência muito grande do automóvel, até por causa da ineficiência do transporte público;, avalia o mestre em Engenharia de Transportes e doutor em Estudos em Transportes da Universidade de Brasília (UnB) Paulo César Marques.
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