Nathália Cardim
postado em 28/10/2014 06:00
Há quatro anos, 34 alunos da turma de aceleração de aprendizado do Centro de Ensino Fundamental 4 da Asa Sul (CEF 4) criaram uma cápsula do tempo. Nela, depositaram os melhores desejos para eles mesmos, para Brasília e para o Brasil, tudo escrito em pedaços de papel. Os participantes, à época, tinham entre 14 e 16 anos. Enterraram o recipiente de plástico no jardim da escola, e a promessa feita naquele dia era a de que se encontrariam em 2014 no mesmo local para resgatar os pedidos e saber se eles haviam se realizado.
No último sábado, parte do grupo se reencontrou no lugar combinado. Segundo os professores responsáveis pelo projeto, Maria Inês Sette da Silveira e Fabrício Gomes, foi fácil combinar o encontro com os alunos envolvidos na atividade, já que eles mantêm contato por meio das redes sociais e têm um grupo no WhatsApp com a maioria deles. ;O objetivo é motivar os alunos de uma turma de aceleração, que eram aqueles que haviam sido reprovados mais de duas vezes, por diversos motivos, estavam desacreditados e tentavam recuperar o tempo perdido;, disse Maria Inês. ;Orientamos que eles montassem um ranking com 5 sugestões para construir um mundo melhor, e eles colocaram no papel as suas perspectivas e esperanças;, acrescentou.
O grupo se encantou com o projeto. Durante seis meses, os estudantes trabalharam para elaborar o material e combinaram que todos se reencontrariam para refletir sobre as expectativas. ;Estávamos ansiosos por esse momento. Não sabemos o que está escrito nem eles lembram quais foram as esperanças depositadas no pedaço de papel;, explicou Fabrício. Para o educador, a ação foi importante para a turma manter a fé no futuro e tentar mudar de atitude diante do mundo. ;Sempre que a gente pensava em quatro anos, achávamos que demoraria muito. Hoje, sentimos o quanto esse tempo passou rápido. Fico feliz em saber que muitos deles estão na faculdade e deram um rumo legal para as suas vidas;, concluiu.
Protagonistas
A retirada da cápsula foi acompanhada por aplausos e emoção. Entre os anseios encontrados, os principais foram por um país justo e com políticos honestos, menos violência e melhorias na saúde e na educação. Além disso, o grupo também tinha a esperança de ver o Brasil se tornar hexacampeão na Copa do Mundo. Também teve espaço para alguns desejos particulares.
No bilhete da estudante Francielly Teles, 21 anos, moradora da Samambaia Sul, aparece a vontade de acabar com a rotina de tragédias, diminuindo a violência para construir um mundo de solidariedade e felicidade. ;Estava com 15 anos e não me lembrava do que tinha escrito. Estou emocionada com esse reencontro;, contou. Na opinião da jovem, apesar de a situação não ter mudado muito, é preciso ter otimismo. ;Perdi recentemente um amigo para a violência que acontece todos os dias nas cidades. É uma pena que o meu pedido não tenha se concretizado, mas o mais importante é nunca deixar de acreditar que as coisas podem mudar;, disse a jovem, que terminou o ensino médio.
O casal de namorados Kamilla Gomes Fernandes, 20, e Leonardo Soares, 20, também faz parte do grupo que criou a cápsula do tempo. Os dois tiveram um filho, Gabriel Gomes, de 1 ano, e estão juntos até hoje. Kamilla escreveu no papel que o maior sonho era construir uma família. ;Estou orgulhosa. Sempre quis ter um filho e não tenho dúvidas de que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Agora, estou esperando o Gabriel ficar maior e, no ano que vem, começo a fazer faculdade de administração.;
Victor Matheus Fontenele Xavier, 19 anos, depositou no recipiente cinco desejos. Entre eles, o de ter um emprego no qual pudesse ser reconhecido; e o de um mundo sem corrupção e com saúde pública para todos. ;Sou brigadista e socorrista. Gosto muito do que faço, mas ainda quero ser policial;, afirmou. Ele está concluindo o ensino médio e pretende se dedicar aos estudos para alcançar o objetivo profissional. ;Estou feliz por ter feito parte desse projeto. É sempre bom rever os amigos para falar sobre as expectativas, compartilhar ideias e saber se realmente as nossas vontades se cumpriram;, finalizou.