Seria possível dois rivais naturais serem melhores amigos? Não? Pois o papagaio Leleco, 3 anos, e o cachorro Bob, 5, não agem assim. Tudo bem que não foi decisão deles morarem sob o mesmo teto, mas de conviverem bem e se respeitarem, sim. Nunca houve briga entre os companheiros, que andam pela casa lado a lado. A dona nem sequer pode pentear o Bob, um shih-tzu, em frente ao genioso Leleco. É pedir para comprar briga com o papagaio. ;Ele fica irritado e avança em mim. Acha que estou fazendo alguma maldade;, conta a auxiliar administrativa Fernanda Macheone Rosa, 36 anos. Para ela, não há dúvida de que Leleco é ciumento. ;Onde o cachorro vai, o papagaio quer ir junto. Até quando preciso descer com o Bob, ele sempre sai correndo para a porta primeiro.;
Casos como o de Leleco e Bob não são incomuns. O veterinário Lincoln Eidi Kubota conta ter conhecimento de vários casos parecidos, não só envolvendo aves e cães, mas gatos e cachorros e outras espécies mais exóticas. Segundo ele, a natureza não impede a amizade entre os animais, e o vínculo é facilitado quanto mais novos forem os bichos. ;Se tentarmos aproximar dois adultos que nunca se viram, pode, sim, acontecer uma tragédia, mas, quando são filhotes, isso é mais fácil e pode dar certo;, explica.
Mesmo assim, ele pondera que os donos devem ser cuidadosos para evitar acidentes. ;É preciso observar se os animais não vão se estranhar em um primeiro momento e, se isso acontece, é necessário separá-los para tentar uma nova aproximação. Ficar de olho na hora da comida é outra dica. É preciso constatar se um come a ração do outro com frequência, pois isso tem chance prejudicar a saúde de um deles de alguma forma;, conclui.
A cadela Cacau, de 5 anos, da raça poodle, não vive entre iguais. Pelo contrário. Cercada por seis gatos, ela incorporou o espírito felino. Ao lado dos bichanos, ela dorme, come e brinca como eles. E, com a convivência, passou a ter aversão por cães. Desde que adotou Lolla, uma gata de rua de 1 ano, a situação se agravou. Quando avista um cão, Cacau quer logo tomar partido dos gatos. ;O vínculo é tão forte que ela até toma banho como eles. Quando é lambida por Lolla, ela adora. E, quando não vigio, tenta até comer a comida dos gatos;, revela a estudante de veterinária Hellen Cristina de Sousa, 32 anos, ;Não existe cama separada. Dividem tudo. Até o pote de água é o mesmo.;
Hellen e o marido, o publicitário Guilherme Prímola, 28 anos, resolveram levar Lolla para casa depois de perceberem que a poodle era seguida pela gatinha de rua todos os dias no horário do passeio. ;Hoje, ela mudou alguns comportamentos típicos de cachorro. Ela até tem as brincadeiras parecidas com a de gatos e, inclusive, brinca com os brinquedos deles;, observa o jovem. Mesmo com receio da convivência entre as espécies, os donos de Cacau e Lolla arriscaram. O casal conta que, desde o primeiro contato, os supostos rivais se entenderam. ;Eles cheiram uns aos outros, em plena harmonia. Até hoje, muitas pessoas me perguntam como isso é possível, e eu digo: ;Animais não têm maldade, apenas instintos;;, ensina Hellen.
A relação entre o bull-terrier Aragon, 2 anos, e a gata Cherry, 7 meses, também é baseada no amor. Quando ela chegou à casa de Aragon, com 40 dias de nascida, o cachorro tinha 1 ano. A princípio, a publicitária Rebeca Catarina Schmidt, 25 anos, imaginou que eles fossem brigar. Para a surpresa dela, a dupla se uniu. ;Tentamos de todas as formas que adotassem a Cherry, mas não deu certo. Ela acabou ficando e, hoje, Aragon cuida dela como se fosse um bebê;, conta a dona. ;E a Cherry, embora tenha as suas reservas naturais, faz dele gato e sapato. Só não dormem juntos porque ela não gosta;, detalha Rebeca, que sempre registra os momentos de afeto entre os dois em uma rede social.