Cidades

Mais do que homenagens, histórias de morte e vida permeiam o Dia de Finados

Na semana que antecedeu o 2 de novembro, muitas pessoas passaram pelos cemitérios de Brasília a fim de limpar o local e aproveitaram para se lembrar dos entes que as deixaram

Nathália Cardim
postado em 02/11/2014 08:33
No Gama, Betania visita o túmulo do filho todos os fins de semana desde 2012: morte cruel dentro do antigo Caje

Hoje é dia de se lembrar dos entes queridos que se foram. De tão importante, o Dia de Finados é considerado feriado nacional. Assim, as pessoas podem prestar as homenagens aos parentes e conhecidos falecidos. Em um dia considerado triste e melancólico para alguns, o Correio conta histórias de morte e vida.

Betania dos Santos Ferreira, 33 anos, moradora do Gama, costuma ir ao cemitério da cidade todas as semanas a fim de homenagear o filho e os parentes que faleceram. ;Eu acredito que um filho nunca se vai em vão e sempre deixa uma lição de vida. Perdi meu menino de uma maneira muito cruel, mas, por ele, faço questão de vir aqui todas as semanas cuidar do túmulo e trazer um buquê de flores para manter essa lembrança mais viva;, afirma.

Betania é mãe de Ronald Ferreira de Bastos. O menino foi encontrado morto no dia do aniversário de 15 anos, em 8 de setembro de 2012, enforcado dentro do dormitório do antigo Caje. O garoto dormia depois do almoço na cela quando foi atacado. Ele dividia o quarto com três colegas. Apenas um, de 15 anos, confessou tê-lo enforcado usando um lençol. Ronald cumpria medida socioeducativa no local havia nove meses antes do ocorrido, acusado de homicídio. ;É uma história triste, mas sei que o Ronald está em um lugar bom. Acho muito importante se lembrar das pessoas que passaram nas nossas vidas e nos fizeram bem. Aproveito para rezar por ele e acender velas sempre que estou aqui;, diz Betania.

Não importa o tempo que passou. ;Não tem como esquecer um filho;, diz Eva Araújo de Oliveira, 63, que desde 1974 vai ao cemitério para orar no túmulo do filho, que morreu quando ainda era um bebê. A aposentada conta que, se pudesse, iria ao local todos os dias. Mas, como mora longe, a visita precisa coincidir com o tempo livre. ;A felicidade está nas pequenas coisas. A saudade não tem fim e essa é uma forma de amenizar esse sentimento. Eu me sinto bem quando estou aqui;, revela.

Eva também perdeu o marido em 1999 e aproveita as idas ao lugar para cuidar das duas sepulturas. Ela confessa que prefere visitá-los antes do feriado. Claro, no Dia de Finados fica tudo muito tumultuado. ;As preces, as orações são vibrações do pensamento que alcançam os que já partiram. Se existe entre nós o sentimento de verdadeira afeição, se existe esse laço de sintonia, eles percebem nossos sentimentos e nossas preces, independentemente de ser Dia de Finados ou não;, acrescenta.

Dona Eva vai sempre ao cemitério desde 1974: filho morreu ainda bebê

Preparação
Há 31 anos, a dona de casa Vanda Nunes de Castro, 56, visita o túmulo da filha no Cemitério de Taguatinga. A bebê morreu quando completou 2 meses. ;Todos os anos, venho ao cemitério no feriado de finados. Na semana anterior, chegou aqui para limpar e arrumar. E em 2 de novembro, recebemos as visitas no túmulo, colocamos velas, flores e rezamos pela minha filha.; A dona de casa faz o mesmo trabalho com o túmulo da mãe, localizado em outra parte do cemitério. ;Nunca deixo de vir porque não me esqueço dos que partiram. Eles estão sempre presentes em nossos corações.;

Joana da Silva Brito, 68 anos, faz parte da Pastoral da Esperança, que tem tudo a ver com este dia. O objetivo do órgão da Igreja Católica é dar conforto espiritual para aqueles que passam por uma perda, não só afirmando a presença ao lado dos que sofrem, mas também rezando pela ressurreição dos mortos. Durante a semana, ela foi visitar o pai e o filho, que estão enterrados em Taguatinga. ;Tem muitos anos que frequento este lugar. Se eu não vier, ninguém vem.; Acompanhada pelo neto Matheus Mata da Silva,18 anos, ela queria deixar tudo bonito. ;Estou aproveitando o Matheus aqui para dar um trato em tudo antes do Dia de Finados. Queremos deixar os jazigos da família bem bonitos.;

Mas nem tudo é paz no local. Joana reclama de falta de água e diz que a manutenção deixa a desejar. ;Nós pagamos uma taxa mensal e muitas vezes não vemos melhorias. O cemitério está um pouco abandonado e, assim, a família é que tem que cuidar dos mortos queridos.; Para ela, os que já se foram um dia cuidaram de quem permanece vivo e, por isso, faz questão de visitá-los sempre. ;Quem estiver aqui tem a obrigação de deixar o local limpo e agradável para as visitas.;

Confira
Endereços dos cemitérios do Distrito Federal:

Campo da Esperança (Asa Sul): 916 Sul
São Francisco de Assis (Taguatinga Norte): SOFHN Área Especial
Cemitério do Gama: SOE Quadra 3 Área Especial Cemitério Setor Oeste
Cemitério Sobradinho:AR 07 Área Especial Cemitério Sobradinho II
Santa Rita (Planaltina): SNO Conjunto E Área Especial
Cemitério de Brazlândia: SNO Quadra 6 Área Especial


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