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Há 30 dias, quando comprou uma passagem de São Paulo para Brasília, o gerente de vendas Alberto Ruiz, 48 anos, não poderia nem imaginar que embarcaria no "voo da premonição". A notícia sobre a "maldição" que acometia a viagem foi dada por uma ex-colega de trabalho, pouco antes do avião partir do Aeroporto de Congonhas, às 8h30. Era aquele o voo que, segundo um autoproclamado vidente, se espatifaria na Avenida Paulista nesta quarta-feira (26/11).
Apesar de dar de ombros para essa história de videntes, Ruiz - nunca se sabe... - chegou a pensar que tinha recebido um sinal divino para não embarcar. Outro sinal. "Um amigo alemão, que viajaria comigo, foi impedido de embarcar porque esqueceu o passaporte", disse. "A TAM chegou a me propor para trocar de horário e esperar por ele, mas decidi ter fé e acreditar que chegaria inteiro ao meu destino", brincou.
O tom de bom humor em terra firme não era o mesmo duas horas antes. Assim que se acomodou na cadeira cinco do corredor, Ruiz escreveu rapidamente uma mensagem para a mulher: "Estou no voo da premonição. Amo todos vocês". O gerente de vendas, habituado a viajar quase todas as semanas, relatou que notou uma diminuição de passageiros nos aeroportos. "Geralmente o saguão fica lotado. Hoje, tinha poucas pessoas nas filas para embarque. Acho que muitos evitaram andar de avião nesta data."
Se houve alguém que, de fato, evitou o voo propositalmente, ao menos escapou de meia hora de atraso. O TAM JJ 4732, previsto para chegar às 10h12, só deu as caras no Aeroporto Juscelino Kubitschek às 10h40. "A verdade é que todo mundo ficou aliviado quando passamos da Avenida Paulista e constatamos que estávamos a salvo", diverte-se Ruiz. A previsão do suposto vidente revelava a colisão da aeronave com um edifício na principal avenida da região. Moradores do prédio chegaram a colocar avisos nos elevadores com alertando sobre a premonição.
Outros passageiros contaram que o clima dentro da aeronave era de bom humor. E alguns passaram mais da metade do voo contando piadas sobre o caso. Um grupo de pescadores que, seguia para Manaus, sabia do "risco", mas garantiram que, nem a ameaça de acidente, faria a turma perder a pescaria.
Enquanto o clima entre os passageiros era de descontração, no Aeroporto JK, atraso e falta de informação chegaram a angustiar quem esperava os passageiros. O motorista Guilherme Vilela, 24 anos, esperou a chefe e começou a se preocupar. "Sempre que perguntava o número do voo para os comissários da TAM eles me passam uma sequência diferente. Não acredito na premonição, mas comecei a desconfiar que havia algo estranho", desabafou.
O vice-presidente de Operação e Manutenção da TAM, Ruy Amparo, que também embarcou no voo, esclareceu que a troca de números de JJ 3720 para JJ 4732, se deu para que as pessoas não ligassem o prefixo a tragédias. Segundo ele, as aeronaves não passaram por um a inspeção extraordinária, já que, de acordo com a companhia, os reparos são feitos constantemente. "Vim para mostrar que confio no meu trabalho e orientar as pessoas que, por ventura, ficassem assustadas", destacou. O voo estava com 60% de lotação, dentre os passageiros havia ao menos dez jornalistas, informou a companhia.
A premonição, de acordo com o autoproclamado vidente Jucelino Luz, foi feita em 2005. Ele alega ter registrado a "revelação" em cartório, mas até esse documento pode ser falso. Segundo Luz, a aeronave apresentaria problemas em uma das turbinas e se chocaria com o prédio por volta das 9h.