Cidades

MP denuncia 18 PMs do Entorno por ligação com Carlinhos Cachoeira

Promotora propõe ações de improbidade administrativa contra acusados de colaborar com a instalação e a manutenção dos caça-níqueis nas cidades goianas vizinhas do DF, em esquema do bicheiro

Renato Alves
postado em 05/12/2014 15:10
O Ministério Público de Goiás (MPGO) denunciou à Justiça estadual 18 policiais militares que trabalhavam no Entorno do Distrito Federal por envolvimento no esquema de corrupção montado pelo bicheiro Carlos Augusto Ramos Cachoeira, o Carlinhos Cachoeira. A promotora Fabiana Zamalloa, titular da promotoria de Defesa do Patrimônio Público de Goiás, propôs cinco ações de improbidade administrativa contra acusados de colaborar com a instalação e a manutenção das casas de bingos e caça-níqueis nas cidades goianas vizinhas do Distrito Federal. Ela ainda pediu o bloqueio de R$ 20 milhões em bens dos acusados. Mês passado, a promotora entrou com outras nove ações por improbidade contra a organização criminosa.

Em suas cinco denúncias mais recentes, Fabiana Zamalloa destaca que "a organização criminosa tinha por objetivo fomentar, manter e estimular a atividade de exploração e cartelização de jogos de azar, principalmente máquinas caça-níqueis e bingos". Entre os denunciados estão de soldados a oficiais, comandantes de unidades, cooptados para dar cobertura, segurança e proteção ostensiva ou velada às casas de jogos de azar. O braço armado da organização também recebia dinheiro e outras vantagens para transferir informações sobre investigações policiais que poderiam ser desenvolvidas contra a atividade ou de interesses políticos da organização.

Desvendada pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em fevereiro 2012, a investigação também rendeu diversas ações coordenadas pelo Ministério Público Federal (MPF), que apresentou ações penais na Justiça Federal. Nelas, além de Cachoeira, homens de confiança dele, policiais militares, civis e federais, políticos também são réus, como o então senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), cassado por quebra de decoro parlamentar.

As ações movidas pelo MPGO goiano não tem relação com as investigações no âmbito penal. Como há servidores públicos de Goiás, o MP estadual abriu ações de improbidade, remetendo denúncias à Justiça goiana, que decidirá se aceita ou não as denúncias. Nas nove primeiras ações, entre os acusados estão nove delegados da Polícia Civil de Goiás. Oito deles chefiavam delegacias do Entorno quando o escândalo veio à tona. Até agora, por parte do MP goiano, mais de 70 pessoas estão denunciadas, sendo que algumas respondem a mais de um processo, caso de Carlos Cachoeira e dos seus auxiliares diretos.

Vista grossa
Em uma das cinco recentes ações, Fabiana Zamalloa descreve atos de improbidade administrativa praticados pelos PMs Antônio Carlos da Silva, João de Deus Barbosa, Vanildo Coelho, Valdemir de Araújo com a participação de Carlos Cachoeira e seus supostos braços direitos ; Lenine Araújo de Souza, Geovani Pereira da Silva e Willian Vitorino ; no recebimento de propinas para se omitirem na fiscalização da atividade ilícita.

Ainda segundo a promotora, os PMs também favoreceram a organização criminosa, especificamente na realização de operação policial de fechamento da casa de bingo de cartela de propriedade de Raimundo Queiroga, em Valparaíso (GO), em retaliação a ele, por ter sido aberta sem o consentimento de Cachoeira e por desobediência ao comando da quadrilha e descumprimento dos acordos financeiros para a exploração da jogatina no repasse de percentual do faturamento obtido.



Antônio Carlos era cabo da PM, lotado em Cristalina. "Cooptado pela organização, tornou-se um dos principais recrutadores de policiais para o esquema, em especial para a cobertura e proteção ostensiva ou velada dos estabelecimentos de jogos da organização, bem como para o repasse de informações sobre os trabalhos policiais para enfrentamento à exploração ilícita de jogos de azar, a fim de possibilitar uma atuação prévia do grupo para neutralização da atividade estatal de combate aos jogos", descreve Zamalloa. "Ele também foi o principal responsável pela entrega dos valores advindos da organização aos policiais cooptados, bem como pela elaboração de escala de atuação destes na cobertura e proteção dos estabelecimentos", completa.

Antônio Carlos recebia mensalmente R$ 200, além de R$ 3,5 mil por serviços específicos. Já o tenente-coronel João de Deus, conhecido no esquema como Pintado ou Pinta, ocupava o posto de major na época dos crimes. Entre o fim de 2010 e início de 2011, comandou a PM em Valparaíso. "Cooptado por Cachoeira, deixou de atuar na repressão dos jogos ilegais, atuando em seu favor, inclusive na realização de operações contra grupos concorrentes, mediante propina de R$ 1 mil. Os policiais Vanildo e Valdemir, lotados em Valparaíso, participaram igualmente no esquema, com a devolução de materiais regularmente apreendidos e realizando segurança de casas de jogos pertencentes aos integrantes da organização", destaca a promotora na ação.

Comandantes
Chama a atenção também o nome do tenente-coronel Uziel Nunes dos Reis. Conhecido no esquema como U, Uz, Baixinho ou Pescador, era na época da investigação major e subcomandante em Luziânia. Segundo a promotora, fazia uso do cargo para repassar informações privilegiadas sobre a atuação dos órgãos de segurança no combate aos jogos ilegais no Entorno. Em toca, recebia R$ 1 mil mensais. "Uziel repassou, em pelo menos duas ocasiões, informações privilegiadas sobre atuação da Força Nacional, o que possibilitou que os membros do esquema evitassem o êxito de operações deflagradas por aquele órgão", destaca Fabiana Zamalloa.

Outro nome de destaque é do coronel Massatoshi Sérgio Katayama. Consta da ação que o oficial, então comandante de Policiamento da Capital (Goiânia) aderiu à organização criminosa, inclusive com o recebimento de um telefone Nextel, distribuído para os integrantes mais proeminentes da organização para intercâmbio de informações de interesse da quadrilha. Na condição de comandante, segundo a enúncia, Katayama tinha acesso a informações sigilosas, em especial as referentes à atuação da PM e de outros órgãos de segurança no combate aos jogos ilegais.

"Escutas ilegais"

Na defesa dos clientes, os advogados do ex-senador Demóstenes Torres, de Carlos Cachoeira e de outros envolvidos defendem a tese de que as escutas da Operação Monte Carlo foram ilegais. Com o fato de Demóstenes ter sido cassado, a reclamação contra ele, que estava no Supremo Tribunal Federal (STF), voltou ao Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO).

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