Em meio ao Planalto Central, distante mais de mil quilômetros das cidades litorâneas, Brasília oferece um ponto de refúgio singular. É no epicentro do poder que está o refresco dos brasilienses. A orla do Lago Paranoá, embora artificial, se tornou a praia de quem vive no Distrito Federal. Enquanto em épocas do ano o clima seco castiga a cidade, as margens proporcionam alívio. Desde 1959, antes mesmo da fundação da cidade, a beira do reservatório é contemplada por visitantes e moradores.
O clima praiano, no entanto, é um evento moderno e cresce a cada fim de semana. Palco de diversão, esporte, lazer, entretenimento e atividades culturais, o Lago Paranoá figura como o principal ponto de encontro de pessoas ao ar livre. Diferentemente dos primeiros anos, quando houve muita invasão de terra pública e poluição, o espelho d’água, hoje, é sinônimo de recreação e alvo direto de políticas públicas. Aos sábados e domingos, famílias e amigos se reúnem ao redor do lago.
De norte a sul, as opções oferecidas variam bastante. Alguns pontos se tornaram cartões-postais, com bons ângulos para os amantes da fotografia. Outros servem para banho de sol, mergulhos e corridas. O servidor público Luciano Danni, 47 anos, frequenta a orla na QL 12 do Lago Sul todos os dias. “Esta aqui é a minha praia de todos os dias. Venho caminhar com os cachorros e, nos fins de semana, e eu pratico o stand-up paddle e a asa-delta e faço outras atividades”, conta. Para ele, morador da região, o espaço é a melhor opção de diversão na capital federal. “Quem vive próximo à orla sempre frequenta, mas percebo que o local é pouco democratizado. Mesmo assim, não tem nada melhor do que isso daqui”, afirma.
Amante da água, o educador físico Rafael Holsbach, 28 anos, pratica o surfe quase diariamente no espelho d’água. Ele costuma frequentar os espaços abertos, como o Parque Asa Delta, conhecido como Morro Asa Delta, e a Península dos Ministros. “Venho com a prancha para praticar a remada. Sou triatleta profissional e gosto do esporte no lago, principalmente em locais amplos e menos movimentados. Aqui, é o nosso refúgio para a prática de esportes”, explica. Segundo ele, a qualidade do espaço atrai cada vez mais gente. “O lago está limpo e agradável. Muitas pessoas chegam para fazer stand-up paddle, windsurfe e a remada”, destaca.
Multiúso
O coordenador do Movimento Amigos do Lago Paranoá, Guilherme Scartezini, considera o planejamento do espaço como multiúso. Desde a melhoria das condições ambientais do Plano Piloto, com o aumento da umidade, o lago também é utilizado para geração de energia, tratamento de esgoto e lazer. No entanto, o sociólogo e técnico em meio ambiente argumenta que faltam estruturas nas áreas públicas da orla. “Ainda há pouco investimento nos locais às margens do lago para que o uso seja efetivamente público. Hoje, basicamente, 90% dos clubes estão ao redor da orla, e o governo precisa ter atenção nisso. É necessária a colocação de estrutura nos pontos, com gramado, bancos, banheiros e quiosques”, ressalta.
Segundo Scartezini, a água tem 60% de balneabilidade, ou seja, a qualidade é considerada boa. “Hoje, o grande apelo é a implantação de estruturas para acesso público. A água é excelente, e o espaço proporciona uma qualidade de vida”, considera. A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) informou que 90% da superfície do reservatório é adequada para recreação e contato primário. Apenas as áreas próximas às estações de tratamento de esgoto são consideradas impróprias.