Cidades

Trabalho inédito de peritos da PCDF orientou Comissão da Verdade

Muitos documentos dados como perdidos foram encontrados em tribunais de justiça, fóruns, arquivos públicos

postado em 21/12/2014 08:15
Os peritos Mauro Yared (E) e Pedro Cunha: mergulho no passado a partir de documentos e da tecnologia

A Comissão Nacional da Verdade foi a primeira no mundo a instituir um núcleo de perícias. Em outros países, o mais comum era estabelecer convênios com universidades ou outras instituições para os trabalhos. Aqui, uma equipe especializada em crimes de tortura e violação de direitos humanos se dedicou a criar uma metodologia específica para analisar os casos ocorridos durante o regime militar que vigorou no países entre 1964 e 1985. Contando com o auxílio de tecnologia para montar modelos tridimensionais, eles também peregrinaram ao passado. Muitos documentos dados como perdidos foram encontrados em tribunais de justiça, fóruns, arquivos públicos. Fotografias também se mostraram fundamentais para orientar o trabalho.



A partir de novembro de 2013 a CNV, que teve os trabalhos encerrados na última semana, passou a contar com um grupo próprio, trabalhando exclusivamente para esclarecer casos de supostos suicídios. Dois peritos da Polícia Civil do Distrito Federal, com experiência em casos de torturas, foram chamados para a missão de dar respostas sobre 44 casos de falsos suicídios. A tarefa mudou ao longo do tempo, para se adaptar as condições e as necessidades da comissão. Outros quatro peritos integraram a equipe. Eles fizeram uma triagem na lista inicial e selecionaram 15 casos com documentação que possibilitava análise.

Para os outros casos, começaram a disparar solicitações para órgãos que poderiam ter informações válidas. Ao mesmo tempo, o conhecimento deles foi requisitado em outros estudos. A equipe colaborou nos casos dos presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, ou em episódios emblemáticos, como de Vladimir Herzog, Stuart Angel, Carlos Marighella. Além das histórias individuais, os profissionais entraram nas dos locais de ocultação de cadáveres, como a famigerada Casa da Morte de Petrópolis. ;Com a nossa experiência em política, estamos acostumados a checar fontes. Trouxemos um pouco disso à CNV e fomos chamados em outros casos;, diz o coordenador do Núcleo Pedro Cunha.

Tanto ele quanto Mauro Yared são cedidos da PCDF e trabalhavam com mortes violentas há 20 anos. Em 2007, ministraram o primeiro curso do pais sobre Locais de Tortura e Execução sumária, pelo Ministério da Justiça. ;Naquele momento, nós depuramos a metodologia e fixamos a forma de trabalho;, afirma Cunha. A forma de encarar os crimes é a primeira diferença em relação ao trabalho em homicídios comuns. ;O raciocínio muda, é excludente. No caso do suicídio, por exemplo, deveríamos encontrar alguns elementos. A não constatação de alguns deles já são informações que precisamos analisar;, explica Yared.

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