Jacqueline Saraiva
postado em 09/02/2015 14:48
Em meio ao cenário de crise hídrica em todo o país, a capital federal protagoniza cenas de desperdício de água. Em um vídeo, uma moradora do Distrito Federal, que não quis se identificar, mostra o que, segundo ela, é uma prática diária: funcionários de empresas terceirizadas supostamente jogando milhões de litros de água nas vias da cidade. A ação seria motivada por ordens tanto das empresas prestadoras de serviços quanto da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) e do Serviço de Limpeza Urbana (SLU): os caminhões, que saem cheios de água para a execução de serviços urbanísticos, como irrigação de plantas e grama ou lavagens das paradas de ônibus, não poderiam voltar cheios. Caso contrário, os trabalhadores não receberiam o pagamento pelo trabalho.[VIDEO1]
Nas imagens, gravadas há cerca de 15 dias, é possível ver os funcionários praticando o ato em dois lugares diferentes de Brasília. A primeira parte do vídeo exibe um homem jogando a água na grama em frente à sede da Polícia Federal, na Asa Sul, onde, segundo a leitora, havia apenas duas pequenas mudas de árvores. Em relato à reportagem, ela afirmou que outras pessoas que passavam na rua perguntaram por que os funcionários estavam desperdiçando o líquido sem necessidade. Eles teriam respondido que apenas cumpriam ordens da Novacap.
[SAIBAMAIS]Na segunda ocasião, funcionários despejaram a água na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, mesmo com o piso totalmente limpo. Ela afirma que já chegou a flagrar os trabalhadores aguando flores em meio à chuva. Um funcionário da Cooperativa dos Caminhoneiros Autônomos de Cargas e Passageiros em Geral (Coopercam), que também preferiu não se identificar, disse que a prática é comum. Eles saem para cumprir as rotas e, quando sobra água, jogam na rua ou nas próprias sedes dos órgãos.
O gerente-administrativo da Coopercam, Marcelo Almeida, afirma que a cooperativa, que presta serviços para a Novacap, desconhece esse tipo de atitude e que pode inclusive punir os funcionários flagrados nessa situação. Segundo ele, são cerca de 15 caminhões-pipa que realizam o trabalho na cidade, fazendo a lavagem de paradas de ônibus e irrigação de canteiros de flores e de grama. ;Inclusive a Novacap tem fiscais que acompanham o serviço prestado;, explicou.
A Novacap também negou a prática. Afirma que cada caminhão é abastecido várias vezes de acordo com a rota pré-determinada, que é calculada de acordo com a capacidade de volume de água de cada caminhão. O SLU ressaltou que as duas empresas prestadoras de serviços, a Sustentare e Valor Ambiental, realizam a lavagem de vias, monumentos e bens públicos, mas também desconhece o desperdício de água. A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), que é responsável pela liberação da água para os serviços, além de ser um dos órgãos responsáveis pela fiscalização do processo, não havia se posicionado, até a publicação desta reportagem.