Cidades

Nasce o folião brasiliense

postado em 17/02/2015 15:24
É como se quase todo o Plano Piloto tivesse descido dos apartamentos, das casas da W3, das quitinetes nas comerciais, para brincar o carnaval nas ruas da cidade. Afinal, se a população da área tombada está estimada em 221 mil habitantes, calcula-se que algo em torno de 200 mil foliões ocuparam o asfalto da mais telúrica capital brasileira nos três primeiros dias de folia e brincadeira. Que outra metrópole brasileira tem o peito tão demasiadamente aberto para o céu e tão estonteantemente rodeado de chapadas no horizonte?

Foram necessários 54 carnavais para que, no de número 55, os brasilienses aceitassem o convite insistente e evidente da paisagem urbana. Se aqui os edifícios nascem livres, cercados de áreas verdes por todos os lados, os foliões também experimentam a folia com a mesma liberdade de movimento dos pássaros no ar ou dos peixes no mar.

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Não é mais um carnaval de jornalistas, ou de esquerdistas, ou de adoradores do axé, ou dos fieis do frevo ou dos nostálgicos dos desfiles do Rio. É um carnaval genuinamente brasiliense: é um carnaval de Babydoll, que Rejunta os azulejos do Bulcão, que Concentra mais não sai, que sobe e desce a tesourinha, que transforma o Setor Bancário Sul num Setor de Alegria a Baixo Custo, que submete o Eixão à felicidade pedestre.

Se o GDF não deu um dinheiro aí, se o país está ruim da cabeça e doente do pé, Brasília nos oferece a maravilha de cenário na arte, na beleza, na arquitetura e na formação de um folião que é a síntese do Brasil. Não é nem do sul, nem do norte, nem do sudeste nem do nordeste. E nem do centro-oeste.

Talvez por isso, por ser o resultado de uma fórmula inédita e complexa, que o morador da cidade demorou tanto para ocupar o que lhe pertence. Como se Lucio e Oscar tivessem feito um sambódromo monumental para todos os brasileiros. Mas tivessem de esperar 55 anos para que, finalmente, nascesse o folião brasiliense.

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