Flávia Maia
postado em 23/02/2015 06:00
A expansão urbana desordenada tem posto em xeque o abastecimento de água no Distrito Federal. Segundo dados da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), 24,5% dos domicílios da região se encontram em terrenos irregulares, o que causa um impacto direto nos recursos hídricos do território e dificulta a gestão. Poços artesianos irregulares, ligações clandestinas e vazamentos na rede de distribuição, que enfrenta demanda cada vez maior, são os principais obstáculos. Esses problemas se refletem diretamente no índice de perda do sistema de produção. Pelo menos 27% de toda a água potável do Distrito Federal é desperdiçada no trajeto até a casa do consumidor, segundo relatório do Ministério das Cidades. Ainda que o DF apresente a menor taxa do país, o número deixa a desejar quando comparado a outras nações. No Japão, a porcentagem é de 3% e na Alemanha, 7%.
As consequências de uma ocupação mal planejada tomam proporção maior em uma unidade federativa em que a pressão urbana é a mais significativa, já que os setores agrícola e industrial têm menor expressão. Nos últimos anos, o consumo crescente também tem causado uma alta dos preços (veja quadro). De acordo com o especialista em recursos hídricos e política ambiental e professor da Universidade de Brasília (UnB) Sérgio Koide, a expansão desordenada afeta desde a preservação dos mananciais até a qualidade da água que chega à população. ;Às vezes, mesmo quando as obras são regularizadas, a legislação vigente é pouca para garantir que sejam feitas de forma sustentável, causando problemas como assoreamento dos rios e poluição.;
Somadas ao debate atual sobre a crise hídrica no país, as dificuldades na gestão da água no DF têm deixado os brasilienses em alerta. Se antes o desperdício de água chamava a atenção, agora é motivo de revolta. O aposentado José Ricardo Zani, 61 anos, denunciou ao Correio um prédio, na 915 Norte, que estava jogando na rua a água da chuva coletada pelo sistema de captação do edifício. ;Quase toda semana, dava para ver a água jorrando e alagando a W5. Em tempos de crise hídrica nacional, algo assim é um problema sério;, reclama. A servidora pública Karla Siqueira, 38, moradora do bairro Taquari, no Lago Norte, também ficou indignada com o vazamento do cano de um vizinho. ;A água está escorrendo há um dia. É uma pena, ainda mais na situação atual. O desperdício é grande;, lamenta.
Desperdício
O índice médio do Brasil gira em torno dos 35%, mas algumas regiões, como o Amapá, chegam a aproximadamente 70%.
Mais cara
Evolução no preço da água, por m;
2010 R$ 1,59
2011 R$ 1,70
2012 R$ 1,89
2013 R$ 2,07
2014 R$ 2,22
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Uma radiografia do Lago Paranoá