postado em 26/02/2015 08:30
Raimunda Oliveira nasceu em uma família pobre no interior do Maranhão. Começou a trabalhar ainda criança e precisou trocar os livros e cadernos pela enxada. Junto com oito irmãos, ajudava o pai a capinar, colher arroz e quebrar coco. Depois de alguns anos ela veio morar em Brasília para tentar uma vida melhor. Aqui, se casou e teve dois filhos.Hoje, com 34 anos de idade, Raimunda, que trabalha como doméstica, decidiu aprender a ler e escrever. ;Mudou muita coisa, porque a gente já lê um bilhete, a gente vai a um lugar e sabe ler a placa de um ônibus. Eu dependia muito dos outros, falava: moço esse ônibus vai para onde? Aí eu ia ao hospital: como é esse nome? Agora não, eu mesma leio, só às vezes eu não entendo, aí pergunto;, disse ela.
Assim como Raimunda, milhares de moradores do Distrito Federal decidiram estudar, mesmo depois de ter ultrapassado a idade escolar. São os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que têm mais de 15 anos de idade e ingressaram no ensino fundamental, ou aqueles que têm mais de 18 e entraram no ensino médio. Segundo a Secretaria de Educação do DF, em 2015 serão cerca de 55 mil estudantes nessa modalidade.
Olga Setúbal deu aula para adultos em uma escola de Santa Maria e disse que o método de alfabetização utilizado é diferente daquele para crianças. ;Como no meu caso eram pessoas que não sabiam ler e escrever, então a gente precisava de uma motivação diferente, precisava trabalhar a realidade, os meios de transporte, a vida cotidiana deles e o trabalho.;
O programa é destinado a jovens e adultos que não tiveram acesso ou não concluíram os estudos. A maioria deles trabalha durante o dia, por isso, as aulas geralmente são à noite. Além do cansaço, eles precisam superar barreiras como a distância entre a casa e a escola e o medo da violência. E foi justamente por causa do grande número de assaltos que os 500 alunos da EJA do Centro Educacional São Francisco, em São Sebastião, foram transferidos para outro colégio. A diretora, Leísa Sasso, disse que os alunos se sentiam muito inseguros. ;São ruelas muito estreitas que favorecem a criminalidade. A gente ouviu muitos relatos de estudantes contando que foram roubados celulares, pertences, bicicletas a caminho da escola; afirmou.
A Secretaria de Educação do DF reconhece que a violência é um grande motivo para a evasão escolar. Segundo a diretora do São Francisco, as turmas começavam com 60 alunos e terminavam com menos de dez. De acordo com o coordenador de Educação de Jovens e Adultos, Claudio Amorim, este ano o DF vai aderir ao Pacto pela Segurança, uma parceria com a Secretaria de Segurança Pública e o governo federal. ;A intenção é criar projetos setoriais entre as secretarias para evitar esse processo de evasão por meio da violência. Mas, sim, essa é uma realidade em alguns locais, principalmente em algumas regiões mais longínquas, na zona rural. A meta é conseguir reverter a situação;, ressaltou.
A pessoa que tem interesse em se inscrever na Educação de Jovens e Adultos do DF deve ligar para o telefone 156. O estudante pode escolher duas escolas para concorrer a uma vaga. Ele precisa informar o nome completo, endereço e CEP. Depois, é só conferir se foi selecionado no site da Secretaria de Educação e ir à escola fazer a matrícula.
É possível ainda estudar a distância. O conteúdo é ministrado pela internet, em um ambiente virtual desenvolvido pelo Ministério da Educação. A matrícula é feita pessoalmente na secretaria do Centro de Educação de Jovens e Adultos (Cesas), que fica na Asa Sul, área central da capital.
A Universidade Católica de Brasília também tem um projeto social para jovens e adultos, o Alfabetização Cidadã. Lá, muitos professores trabalham de forma voluntária para atender a alunos com mais de 18 anos que vivem em situação de vulnerabilidade social e têm renda mensal até R$ 400,00.
A estudante Márcia Garcia é voluntária no programa e disse que a experiência trouxe muitos benefícios para a formação profissional. ;Me mostrou o lado sensível que a gente tem que ter com essas pessoas. É um cidadão que, infelizmente, não consegue exercer plenamente a cidadania pela condição de não leitor, ou pela oportunidade que não teve há muito tempo ou que teve de ser abandonada por outras necessidades que eram prioridade no passado;, explicou a jovem.
O projeto atende na própria universidade e em regiões administrativas como Areal, Samambaia sul e norte, Riacho Fundo 2, Varjão, Recanto das Emas e Brazlândia. Para se inscrever basta ir ao Campus 1 da Católica, que fica em Taguatinga.