postado em 17/03/2015 06:54
Nem os mortos têm descanso na Fazenda do Manga, zona rural de Cristalina (GO). O impasse dura 10 anos e o pequeno cemitério bicentenário corre o risco de ter seu espaço tomado pelo cultivo de soja. À frente de uma mata, que protege um córrego, as cruzes e os túmulos estão danificados. Foram destruídos pelo gado que pastou no local antes da safra. Ali, estão enterradas muitas gerações de goianos. Antônio Teodoro de Matos, 72 anos, luta para preservar a história do Cemitério do Manga. Debaixo daquela terra, estão os avós, pais, primos e alguns irmãos, entre outros familiares do agricultor. De lá para cá, o número de covas passou de 100. ;Eu quero ser enterrado aqui. Nesse chão, está toda a minha família;, argumentou Antônio. No entanto, segundo a Secretaria do Meio Ambiente de Cristalina, após a regularização da área, não haverá mais sepultamentos. Os mortos serão enterrados no município vizinho de Campos Lindos, a exemplo do que ocorre na cidade fictícia de Sucupira, da peça de Dias Gomes Odorico, Bem-Amado.
Na Prefeitura de Cristalina, há um processo para a desapropriação do terreno para o município a fim de acabar com a disputa pela terra. Inicialmente, o parcelamento seria de uma área de 9.600 metros quadrados. Porém, Neri Amorim da Silva, apontado pela comunidade como dono do terreno, discordou do levantamento feito pelo governo e, por conta própria, avisou a José Alberto de Morais, topógrafo oficial, que contrataria um profissional para recalcular a área. ;Ele disse que achou a demarcação muito grande;, explicou o servidor. Os moradores da área contam que a demarcação chegou a ser feita, mas o fazendeiro teria mandado funcionários arrancarem os piquetes.
Neri e o filho Rafael Amorim da Silva se manifestaram pelo advogado da família, Nadimir Kaiser de Oliveira. Por telefone, o defensor disse que a área foi doada para a prefeitura há 20 anos e que, durante esse tempo, ficou abandonada. ;Ele vai cercar para o cemitério exatamente a área combinada. (Neri) Estava esperando a colheita terminar, o que aconteceu há duas semanas;, garantiu o advogado. Os moradores da zona rural ainda acusam o fazendeiro de não ser dono da terra onde está o cemitério. ;Ele foi chegando e pegando a terra aos poucos. Hoje, está engolindo as catacumbas;, afirmou o agricultor Osvaldo Alves de Souza, 59 anos, que tem boa parte da família sepultada no local. O advogado rebate as suspeitas. Segundo ele, os proprietários têm escritura do terreno que aponta a área total de 505 hectares (o que equivale a 505 campos de futebol oficiais). ;Ele, de fato, é dono. Temos a documentação que mostra isso;, contestou Nadimir.
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